O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Martha, o amor, o poder… e um conto de fadas

Parte dessa história é baseado numa vida real e a outra parte foi tirada de um conto de fadas africano (do livro “Volta ao mundo em 52 histórias”, Companhia das Letrinhas).

Martha sempre impunha sua vontade: família, amigos, até os chefes acabavam fazendo o que ela queria. Ganhava no berro, ou pela persuasão, ou pela  força de sua personalidade.

Isso durou até que ela conheceu e se apaixonou pelo Sérgio, que era forte como ela. E ele foi se impondo cada vez mais, fazendo questão de mandar em cada mínima coisinha. Mínima mesmo: onde iam no fim de semana, qual trajeto fazer…

Martha as vezes brigava e as vezes se submetia, querendo se impor e querendo ser feliz. Com raiva, fazia o que ele queria ou berrava mais alto e vencia, sem prazer algum. E algumas vezes era tão bom estar com ele… mas será que era amada? Que amava? Cada vez mais dividida, Martha chegou a um ponto de nem mais saber o que queria ou o que sentia.

 Desanimada, foi visitar tia Zaide para falar de suas magoas. Tia Zaide serviu-lhe um chá de hortelã e contou uma história:

Era uma vez um homem que fez um favor a um feiticeiro. Em troca, o feiticeiro concedeu-lhe o dom de transformar-se no que quisesse.

O homem aproveitou seu dom transformando-se em um touro valioso, que o irmão vendeu no mercado. Depois, sem ser visto, ele transformou-se novamente em homem e fugiu do novo dono. E passou a enganar muita gente assim. 

Isso durou até que foi vendido a um homem que também tinha poderes mágicos, porém mais fortes do que o dele. Quando transformou-se em homem para fugir, o novo dono transformou-se num leão e correu atrás dele. Ele virou uma águia, o dono um falcão. Ele um lobo, o dono um antílope. 

Até que, afinal, o homem desistiu e disse para o dono: 

– Está bem, você é mais do que eu. Ganhou, tome seu dinheiro de volta e me deixe ir embora, por favor. Liberte-me.

No início Martha não entendeu o que essa história tinha a ver consigo, mas pensou um pouco e disse:

– Os dois, o homem e esse dono, estavam disputando o poder, né? No fundo, o que mais contava para os dois era vencer o outro, mais do que ganhar dinheiro. Você quer dizer que eu e Sérgio estamos numa disputa de poder, mais que numa relação amorosa?

Tia Zaide serviu-lhe mais chá. Martha tomou um gole e perguntou:

– E onde fica o amor nisso?

– Pois é, onde? O oposto do amor não é o ódio e sim o poder. Onde existe um, o outro não está.

– Faz sentido. Todo.

PS- Houve um happy end para Martha sim, mas com outro amor. E, até onde sei, até hoje livre de jogos de poder.

 

 

 

 

 

 

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