Há ainda muito preconceito contra lesbicas
Nesse trecho de nosso livro, na entrevista Laura Bacelar fala sobre sua experiencia em círculos de mulheres lésbicas e as dificuldades trazidas pela falta de aceitação social – e muitas vezes, ainda pior, de auto aceitação.
“Quando eu falava sobre a questão de conseguir espaço porque nós, homossexuais, temos mais dinheiro, de fato isso não é bem verdade para as mulheres. Uma coisa é um casal de gays homens que não tem filho e outra, um casal de lésbicas, porque lésbicas ganham menos por ser mulheres. Então duas mulheres juntas não ganham mais do que um casal composto por um homem e uma mulher. Quem ganha mais são os dois homens. Mas não quis chamar atenção para isso, na época.
Tem muito preconceito contra lésbicas mesmo! Tanto que, quando você encontra um lugar que abre as portas, tem de aproveitar. Minoria sexual já está acostumada a ser olhada torto, mas se você convida para um evento não pode ser num lugar onde isso aconteça. Então a gente sempre teve o cuidado de procurar locais que acolhessem bem. E
também existe o medo de quem vai: “Meu Deus, será que alguém vai me filmar? Será que eu vou sair no Jornal Nacional?” Tantas fantasias! As pessoas vêm com um histórico de ter sofrido muita discriminação, algumas sofreram violência mesmo, algumas estão numa situação econômica terrível porque foram postas para fora de casa. Há grandes preconceitos externos e também internos. Eu cheguei à conclusão de que o preconceito internalizado
é o mais difícil de lidar. É preciso trabalhar anos e anos para ir se livrando dessa carga.
E a pessoa que não assume a sua sexualidade não tem com quem conversar. E se não ilumina a si mesmo e à sua identidade, em geral tem uma vida emocional podrérrima, muitas vezes atrai as piores parceiras. Fica com uma mulher abusiva, ciumenta, que não deixa isso, aquilo… E fica também sem parâmetro: não sabe o que é abuso e o
que não é, se alguma coisa é normal ou não. Se está numa relação só de duas pessoas e não consegue consultar o entorno, é muito difícil saber. A mulher que se cerca de amigas com quem conversa francamente fica muito menos sujeita a viver isso. Também há as mulheres lésbicas que se autoisolam porque não se assumem. Quem fica muito
trancada gasta energia se escondendo e inventando história para parente em vez de usar essa energia para avaliar o relacionamento, ou procurar outro, ou procurar emprego. Então, a chance de virar uma meleca é imensa!”
Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro – Círculo de mulheres – as novas irmandades. link no menu