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Tigres, pedras e segredos em um jardim Zen

Pedra. Este ano quero me parecer com uma pedra, antiga e simples, dura e inteira.

Tenho sonhado com pedras.
Em um sonho, eu estava ao lado de uma imensa pedra de estranha cor azul, úmida, e meditava junto com ela. Em outro, via pessoas tomarem impulso para se lançarem de asa delta do alto de rochedos à beira de um mar noturno e infinito.

O lugar mais extraordinário que já fui – e olhe que tenho andado por esse mundão – foi o jardim de pedras de do Templo Zen de Ryoanji, em Kyoto, Japão. Feito no sec XV com intenção de levar os monges à iluminação, é composto apenas por pedras e mínimos tufos de vegetação.
Seu nome original é “Pegadas do tigre que cruza o mar”.

Tive um choque quando o vi.
Sentei-me nos degraus e fiquei lá por mais de quatro horas, imóvel, atônita.
Parecia que na minha frente estava o segredo do universo, da minha vida, da vida em si. Eu não sei. Não sabia então, não sei agora.
Mas se segredo existe é lá que está, codificado em pedra.

O muro que cerca o espaço é revestido de argila que, ao sabor da estação, resseca, trinca ou escorre por causa do sol, da chuva ou da neve, deixando assim marcas que tornam visível o mutável que cerca o imutável.
O jardim é composto por 15 pedras, mas, onde quer que se situe, você não consegue ver todas ao mesmo tempo. Uma sempre fica escondida.
É o segredo que anuncia que há um segredo.

A intenção que tenho para esse ano é a de ser simples, pedra, segredo que sou até para mim mesma.

1 comentário

  1. Oi Beatriz,

    Encontrei esse seu post por acaso, que lindo texto, profundo e poético ao mesmo tempo.
    Bjs

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