O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Terceira tarefa de Psiquê: coletar sua parte da água da vida na fonte perigosa

A terceira tarefa de Psiquê é a mais perigosa até agora: ela deve trazer para Afrodite uma jarra cheia da água da fonte que alimenta dois rios infernais, o Cocito e o Estige. A fonte está numa paisagem aérea de pesadelo: no alto de um penhasco inalcançável, guardada por dragões que não piscam. As próprias águas gritam para Psiquê: “Você morrerá aqui, fuja”! Ela ficou petrificada: não tinha jeito de conseguir nem mesmo escalar o rochedo, e ainda gravida como estava!

Mas por ali passava a águia de Zeus, que se lembrou de um favor que Eros havia feito ao deus dos deuses e resolveu ajudá-la. A águia pegou a jarra das mãos dela, passou voando entre os dentes dos dragões, encheu o vaso e o entregou a Psiquê, que o levou para a deusa.

Essa tarefa tem vários significados.

Primeiro, significa que Psiquê precisa aprender a perceber quando uma tarefa está além dela e que deve aceitar ou pedir ajuda ou irá fracassar. Segundo, a águia simboliza a capacidade de ver a paisagem de uma perspectiva distante e mergulhar para captar o que é necessário. Em outras palavras, essa tarefa exige que se olhe algo de uma perspectiva mais alta e com mais distância emocional. Psiquê deve aprender a ver as situações de um nível menos envolvido, com menos identificação, mas sem desistir de seu objetivo.

Terceiro, a própria águia que paira nas alturas remete ao mundo espiritual mais elevado, a uma intuição sublime. É  uma graça que vem do alto respondendo à honestidade e coragem de Psique. Essa também é uma forma de ajuda, a mais elevada de todas.

Por fim, repare que essa fonte, na verdade uma cachoeira, liga o lugar mais elevado com o mais baixo através do elemento ar. E é do ar que chega a ajuda de Psiquê, a águia de Zeus, um princípio masculino. A cachoeira que cai do mais alto para o mais baixo une essas polaridades, e a águia ligada ao masculino que ajuda o feminino já fala da união de opostos que faz parte da jornada de Psiquê ligando o alto com o baixo, o divino com o humano, o masculino com o feminino.

Como mulher e humana Psiquê pode dar limites concretos à força motriz da vida representada pela cachoeira – por exemplo na gestação de um filho ou de um projeto – moldando “a parte que lhe cabe nesse fluxo incessante”. Assim, nessa tarefa Psique também aprende a se apropriar do que é seu, ainda que em um frágil vaso de cristal.

As interpretações acima são baseadas em livros de Eric Newmann, Marie Louise von Franz, Carol Gilighan, Barbara Hubere Jean Shinoda Bolen.

 

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