Somos todas mães medíocres, e isso é muito humano, afirma Elisabeth Badinter
Elisabeth Badinter é uma das vozes mais consistentes do movimento feminista francês. Filósofa e historiadora, é autora de vários livros traduzidos em mais de 20 paises, entre os quais Um amor conquistado: o mito do amor materno. Lançou recentemente O conflito, a mulher e a mãe e deu uma fantástica entrevista para Betty Millan, acesse o link aqui. Alguns trechos da entrevista e recortes de seu pensamento:
“O amor materno foi por tanto tempo concebido em termos de instinto que acreditamos facilmente que tal comportamento seja parte da natureza da mulher, seja qual for o tempo ou o meio que a cercam…. (mas) O amor materno é apenas um sentimento humano. E como todo sentimento, é incerto, frágil e imperfeito.
A mãe ideal é rara como um Mozart. Conciliar idealmente a mãe, mulher, profissional é um milagre. Somos todas mães medíocres, e isso é muito humano. Equilibrar a escuta, a autoridade, as regras e a tolerância com os filhos também não é fácil. É diabólico dizer às mulheres que podemos ser a mãe ideal porque é uma fonte de culpa que nos faz perder a confiança em nós mesmas. Vamos enfrentar problemas e isso é natural. Não dominamos tudo.
Acho que é preciso recusar o ódio que alguns segmentos têm em relação á ciência, que se mostra em particular na desconfiança que algumas mulheres tem em relação aos remédios, ao mundo hospitalar, à peridural nos partos. Isso é diabolizado pelos ecologistas radicais, dizendo que dar a luz é um sofrimento maravilhoso. Isso é que é uma aberração, um absurdo! Cuspir sobre séculos de progresso que melhoram a satisfação com o corpo e reduzem o sofrimento feminino não tem sentido.
O feminismo que vê a mulher como vitima do homem é um erro. É uma vitimização que não estimula à conquista. É preciso dizer às meninas: O mundo é seu, vá em frente! Repetir que os homens são carrascos das mulheres só estimula a violência e a desconfiança. A essência do masculino não é essa!
Se a mãe era feminista, a tendência das filhas é criticar isso porque há uma tendência natural da geração seguinte criticar a precedente. Mas o retorno de algumas mulheres à vida domestica em vez de trabalhar fora segue um raciocínio que reflete a mudança geral da confiança e da estabilidade das atuais relações de trabalho. Elas pensam assim: “Por que devo me matar para uma empresa se posso ser jogada fora a qualquer momento? Será que não vale a pena me dedicar a meus filhos durante dois ou três anos?”
Milênios pesam sobre as mulheres. Elas ainda têm em si um fator de submissão do qual muitas vezes não se dão conta.”
post de Bia Del Picchia