Sobre bruxas, mulheres e o resgate da Grande Avó
Trecho do livro Círculos de Mulheres – as novas irmandades:
“A maioria das “bruxas” dos desenhos animados e da imaginação popular é representada como velhas esquisitas. Também as “bruxas” de carne e osso que foram levadas às fogueiras por vezes eram mulheres mais idosas e com aparência, atitudes ou costumes diferentes dos aceitos pelas autoridades masculinas civis e religiosas. Rebeldes, em suma.
Além dessa rebeldia voluntária ou involuntária em relação aos padrões, muitas mulheres perseguidas eram eficientes parteiras, curandeiras, artesãs e benzedeiras, habilidades que hoje estão sendo revalorizadas em vários meios, mas que na época desafiavam o incipiente capitalismo. Em seu trabalho de formiguinha, elas concorriam com os novos
negócios de exploração popular que começaram a surgir a partir dos séculos XVI e XVII – e, não por coincidência, essa época foi o auge das fogueiras e perseguições às “bruxas” (Federice, 2017).
E, claro, elas eram “esquisitas” também por desafiar a Igreja, tanto católica como protestante, por sua espiritualidade intuitiva e pouco disposta a aceitar imposições religiosas.
Então, não é de estranhar que muitos círculos, cursos e rituais femininos estejam resgatando a imagem da Grande Avó, ou abuelita como é carinhosamente chamada no México, assim como alguns conhecimentos arcaicos e estilos de vida que foram relegados ao esquecimento com a desvalorização do que é caseiro e feminino”.