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Samico e Jung: imagens arquetípicas


Trago aqui, juntas, imagens feitas por dois homens muito diferentes. Gilvan Samico era um respeitado artista plástico pernambucano, que faleceu ano passado aos 85 anos, com obras em museus e galerias. As de Jung são do Red Book

Estão juntas não por serem iguais, pois Samico é um artista, e Jung insistia que não o era; Samico procura a regularidade, contorno e simetria e Jung não tanto;  Samico fazia xilogravura, Jung pintava em papel e fabricava as próprias tintas de maneira medieval; o uso das cores não é o mesmo, e etc.
Mas além da extraordinária beleza elas têm, ao menos para mim, várias semelhanças. Entre outras, repare que  ambos eram inspirados por certos temas aos quais davam tratamento arquetípico,  que parece que nos eleva para outro espaço fora do tempo. Não como intenção, mas como algo que fluiu naturalmente de ambos. 
Nesse sentido, veja o trecho de uma entrevista que Samico deu ao Diário de Pernambuco em 2008, link aqui:

  


 

Além da referência do folclore nordestino, tem gente que identifica nas suas gravuras elementos de artesanato marajoara, gravura japonesa, mandalas tibetanas e pinturas egípcias. Essas influências existem?
– Se há, não é intencional. Acho que é uma coisa interior. Eu trabalho hoje de tal forma que dificilmente você pode conhecer a lenda e identificar aquela origem cultural. Eu não faço um trabalho de ilustração. Estou me baseando numa lenda para construir um novo mundo. Em A caça, por exemplo, a figura principal originalmente era um esquimó. Mas eu não conseguiria enxergar um esquimó dentro de minha gravura. Então eu tirei a roupa dele e o transformei em um homem que pode ser de qualquer cultura. Uma situação corriqueira, como uma conversa com uma pessoa qualquer, pode dar origem a uma gravura que vai ser interpretada pelos outros por seus significados históricos e mitológicos, mas minha intenção era apenas contar uma história simples que me agradou e resolvi desdobrar. Por outro lado, quem conhece determinadas lendas pode também não conseguir enxergá-las na minha gravura, de tanto que eu modifico. Eu não posso ser chamado de judeu apenas por desenhar uma estrela de seis pontas. Existe um gravador cearense cujas figuras lembram desenhos egípcios, apesar de retratarem Padre Cícero e Lampião, mas ele dificilmente se inspirou nos egípcios.

 

 
Existe muita diferença entre desenhar criaturas fantásticas e animais reais?

– Como eu não estou fazendo abstrações, procuro fazer o mínimo para que as pessoas entendam qual é aquele bicho, me valendo de uma forma conhecida. Mas, se você reparar, talvez você não consiga identificar qual é a espécie específica de pássaro que aparece em determinado quadro. Isso não me interessa. Se ficar parecido, ótimo, não tenho nada contra, mas, quando eu estou fazendo, não me preocupo em ser tão fiel à natureza. Quando faço um dragão, não sei com que cara ele vai ficar. Em A espada e o dragão, ele ficou com cara de cachorro, mas eu só vi isso depois de pronto.”
Texto de Bia Del Picchia

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