O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Por um movimento das mulheres amplo, fraterno e revolucionário

Resumo: Solidárias, podemos mudar a visão de mundo patriarcal para uma visão de mundo feminina, consciente, inclusiva, corajosa, generosa, igualitária e fraterna, que vai além do gênero e contempla todos os níveis da vida humana: social, econômico, político, psicológico, espiritual. No qual, solidárias, escolhemos nossas lutas e apoiamos as das irmãs. Solidárias, seguimos nosso chamado e apoiamos os das irmãs. Solidárias, podemos mudar o mundo.

Está rolando uma proposta de greve e de “defender um feminismo mais amplo, que seja antirracista, anti-imperialista, “antiheterossexista” e antineoliberal ao mesmo tempo, que faça uma luta que não secundarize as pautas das mulheres negras, pobres, lésbicas, trans e queers.” Sim para tudo isso!

Porém, como nesse ponto sou muito ambiciosa, desejo ainda mais: que o movimento das mulheres inclua uma revolucionária mudança de mentalidade. Por que?

Porque o feminino em seu aspecto mais amplo remete a seu mito (ou arquétipo) de origem: a Grande Deusa – e a Grande Deusa acima de tudo é inclusiva, abarcando TUDO, todas as pessoas, todos os aspectos da vida.

Assim, um movimento feminino mais amplo vai incluir tudo que trata da proteção, defesa, apoio, cura, pesquisa e desenvolvimento do princípio feminino, que é em si inclusivo e além do gênero. Vai incluir todas as formas e maneiras de fazer isso. Vai incluir todas as pessoas que se sentirem chamadas a fazer isso.

O matrilinear é abrangente. O que sistematicamente procura separar as coisas, desde que tomou o poder no mundo há milhares de anos, é o patriarcado.

E, se a gente não tentar mudar a mentalidade que nos rege há tanto tempo, mesmo dentro do movimento feminino, sem perceber, podemos reproduzir o pior do patriarcado – e sofrer as consequências como as que acontecem no mundo devido ao pior do patriarcado.

O pior do patriarcado discrimina, divide e provoca disputas. O pior do patriarcado hierarquiza, estabelecendo que tipos de pessoas, ideias e atividades “valem mais” do que as outras. O pior do patriarcado adora estabelecer regras, fazer jogo de poder, ganhar no berro ou na força e usar argumentos autoritários para se impor. O pior do patriarcado tem o “vicio da perfeição”, querendo que tudo e todas sejam perfeitas, imaculadas, sem culpas, erros ou defeitos.

Já o matrilinear aceita que a Deusa tem uma face escura e que nós, humanas, também temos. Que caminhamos sempre, indivíduos e grupos, entre sombra e luz – e que por isso mesmo é fundamental abrir o olho, inclusive em relação a nós mesmas, tomando as medidas e precauções necessárias.

Assim, pergunto se defender o movimento feminino com atitudes típicas do patriarcado também não é uma sombra a ser enfrentada. Será que desse jeito a mudança que queremos acontece e se consolida? Será essa uma verdadeira revolução nas relações humanas?

Para mim, uma mudança efetiva parte da mudança da visão de mundo patriarcal para uma visão de mundo  feminina, consciente, inclusiva, corajosa, generosa, igualitária e fraterna, que vai além do gênero e contempla todos os níveis da vida humana – social, econômico, político, psicológico, espiritual.

Essa mudança traz as mudanças que mudam o mundo. 

Assim, além das lutas por todos os direitos de todas as pessoas discriminadas por questões de gênero, sexo, raça, condição econômica, origem, religião (entre outros, de igualdade educacional, profissional, salarial e política; de controle do próprio corpo, da sexualidade e de acesso à métodos de concepção e contracepção; de contar com a prevenção, proteção e punição de autores de violência estatal e doméstica; etc), um feminismo mais amplo inclui o direito, respeito e valorização das inúmeras formas de busca de desenvolvimento e apoio psicológico e pessoal, feitas em grupos ou individualmente, que levam à sororidade e à mudança de visão de mundo nesse sentido.

Assim, solidarias, escolhemos nossas lutas e apoiamos as das irmãs. Solidárias, seguimos nosso chamado e respeitamos os das irmãs. Solidarias, acolhemos e respeitamos as dores das companheiras sem julgar se são menores ou maiores do que as nossas. Solidárias, tecemos nosso pedacinho da comunitária, infinita e, graças à Deusa, des-ordenada colcha de retalhos. 

Algumas pessoas vão concordar comigo, outras não, e isso é ok. Chega de imposição de pensamento único, não acha? Afinal, podemos querer muito mais do que acolher apenas um pensamento. Podemos ser bem mais ambiciosas do que isso.

Podemos querer tudo. Todas, e para todas. Juntas, cada qual de seu jeito. 

 

 

1 comentário

  1. Ana disse:

    Lindooo !!! Solidariedade, ajuda, cooperação… é oq nos carece!

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