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O pássaro e o ovo: uma história de RECUSA AO CHAMADO

Acho que as histórias tradicionais trazem grande sabedoria. Essa aqui está no livro Histórias de dervixes, de Idries Shah, editora Nova Fronteira, de contos sufistas, que adorei.

Havia uma vez um pássaro que não tinha o poder de voar. Como um pinto, andava pelo chão, embora ciente de que alguns pássaros voavam.
Aconteceu porem que, graças a um jogo de circunstancias, o ovo de um pássaro voador foi incubado por um que não voava.
Em seu devido tempo nasceu o filhote, com a potencialidade de vôo que seus iguais sempre haviam tido. Voltou-se então para sua mãe adotiva, perguntando:
– Quando voarei?
– Persista em suas tentativas de voar, como os outros, respondeu o pássaro que vivia preso à terra.
Disse isso porquanto não sabia como ensinar o passarinho a voar, e nem sequer tinha idéia de como lançá-lo do ninho a fim de que aprendesse.
É curioso, de certo modo, que o passarinho não notasse isso. O reconhecimento de sua situação o confundia em virtude da gratidão que sentia em relação ao pássaro que o havia incubado.
– Sem seu auxilio – dizia a si mesmo – seguramente eu ainda estaria no ovo.
E ainda em outras ocasiões, murmurava:
– Quem pôde incubar-me, certamente deve poder me ensinar a voar. Na certa será apenas uma questão de tempo, ou de meu próprio empenho sem ajuda, ou ainda de alguma grande sabedoria. Sim, deve ser assim. Um dia, de repente, serei conduzido à etapa seguinte por quem me trouxe até aqui.

Como diz o autor, ela pode ser interpretada de varias formas, “de acordo com o nível de conscientização alcançado pelo aluno”. Ele propõe algumas dessas interpretações:
– ‘supor que uma coisa se segue a outra pode ser absurdo; ou
– “o fato de uma pessoa poder desempenhar uma função não quer dizer que possa executar outra”.

Para mim, no entanto, essa historia fala mais é como podemos nos prender a mestres, mães, pais, professores, gurus, analistas, namorados e maridos, esperando que eles nos tragam respostas quando não podem mais.
Quando queremos que eles ainda sejam modelos quando já os ultrapassamos, quando nós mudamos e ainda não entendemos que precisamos encerrar a fase de sermos alunos; enfim, quando findamos algum ciclo e/ou relacionamento de dependência e não queremos enfrentar a vida sem aquela bengala…
Também fala dos limites da gratidão e da necessidade de desenvolvermos por nós mesmos nossas habilidades, ainda que na solidão.

Isso tudo, na Jornada do Herói, pode ser uma maneira da gente recusar o chamado para a ventura, como um pássaro que não honra seu impulso de voar!

1 comentário

  1. Anônimo disse:

    As vezes, só existe a capacidade da mãe adotiva.
    Coisas simples e únicas e não existe o seguinte.
    Nos compreender pela postura do outro, nem sempre o outro esta pondo um ovo.
    Beijocos Neide

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