O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

O Feminino e os livros: NA CASA DE MINHA MÃE

Esse é outro livro que trata de três gerações de mulheres de uma mesma família.
Foi escrito por Kim Chernin, uma escritora americana de livros de ficção e não ficção, poeta, feminista e psicoterapeuta. Foi editado pela Imago Editora Ltda, em 1983 e, como tantos outros que indico, só se encontra em sebos.
Ele é biográfico e auto biográfico. Tem três partes: “Não fui filha também?”, A distribuidora de amêndoas” e “A sobrevivente”.
 A primeira parte começa em 1974, quando Kim, com 34 anos vai visitar sua mãe, junto com sua filha Larissa de 11 anos, depois de 3 anos e meio que não se veem . Existe um clima estranho entre mãe e filha e fica claro, logo de início, um relacionamento difícil entre as duas. Ao mesmo tempo, também é clara a enorme ligação entre elas, apesar do tempo grande de afastamento. Nessa visita a mãe da autora, Rose Chernin pede a filha, que já é escritora, que escreva um livro sobre sua vida.
Então essa primeira parte é entremeada pelas histórias que Rose conta de sua vida para que o livro seja escrito, com as questões que acontecem, nessa visita, entre ela, sua filha narradora, sua neta e suas irmãs. São 4 as histórias contadas por Rose e falam sobre sua imigração como adolescente com a mãe e os irmãos da Russia para os Estados Unidos em 1914 (é uma família judia) ; sua juventude e como se torna comunista e desempenha um importante papel de articuladora de trabalhadores americanos, seu casamento com o pai de Kim e principalmente a vida de sua mãe, Perla e do difícil relacionamento entre elas.
Na segunda parte, em 1978, Rose vai visitar a filha para continuarem a escrever o livro. Vemos nessa parte mais 4 histórias de Rose – sua mudança para a União Soviética em plena revolução com o marido indo trabalhar como engenheiro no metrô de Moscou, sua volta para os Estados Unidos, para ajudar na mudança social que acreditava estar próxima, a segunda guerra e a morte da primeira filha com câncer aos 16 anos. Entremeando essas histórias vem uma reconciliação e uma compreensão entre Kim e Rose e entre Rose e sua mãe, há muito tempo morta, Perla.
A terceira parte se passa em 1980, com Kim com 40 anos, Rose quase 80 e Larissa 17 anos. Agora estão outra vez reunidas as 3 na casa de Kim e ela vai ler para um grupo de amigas as recordações DELA da infância e juventude como filha da sua mãe (é a primeira vez que a mãe vai ouvir também). A mãe começa contando da sua prisão nos tempos do Macarthismo, nos anos 50, do seus processos e da sua quase deportação e depois passa a palavra para a filha, Kim. São 3 histórias da Kim, os tempos da prisão da mãe, sua infância como filha de uma militante comunista e sua visita a União Soviética na juventude e seu desencanto e posterior abandono do comunismo e as brigas homéricas e o afastamento da mãe por causa disso.
Entremeado com as 3 histórias há toda a dor entre mãe e filha, toda culpa e desentendimentos nesse relacionamento, o amor entre as duas e novamente a busca de um maior entendimento e reconciliação.
O livro termina com um pequeno epílogo, com o livro já pronto e as 3 mulheres se encontrando na casa de Rose – “a casa de minha mãe” – em uma comemoração pelo livro e pela entrada de Larissa em Harvard.
Esse livro, na minha opinião, além de versar sobre a questão da ancestralidade feminina, as dificuldades no relacionamento entre mães e filhas, as mudanças no panorama social das mulheres durante o século XX , todos temas femininos é de uma sensibilidade imensa, quase poética, escrito com muita ternura, verdade e delicadeza, de uma forma profundamente feminina. É um livro LINDO!
 
Texto de Cristina Balieiro

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