O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

O Feminino e os livros: DEZ MULHERES

Num dos último post dessa série sobre o Feminino e os livros falei de um que li, pela primeira vez, há quase 20 anos atrás – As Brumas de Avalon. Hoje vou falar de um que li há cerca de 2 meses: DEZ MULHERES.
Ele foi escrito pela escritora chilena Marcela Serrano (que eu não conhecia) e foi lançado no Brasil pela Editora Objetiva, através do selo Alfaguara, em 2012.
Eu adoro ir a livrarias, especialmente a Cultura e fico sempre “fuçando”as novidades. Assuntos sobre o feminino e/ou sobre mulheres, autoras que desconheço e as capas dos livros especialmente capturam minha atenção. Esse livro me “chamou”pela capa; achei bonita e de uma forma bem feminina. Dei uma olhada na sobrecapa e vi que era um livro de ficção com o seguinte enredo: nove mulheres reunidas a pedido da terapeuta – a décima mulher – para contarem umas as outras suas histórias. CLARO que comprei na hora!
A estrutura do livro é a seguinte: cada mulher conta sua história, mas as histórias não seguem padrão algum. É como se cada mulher escolhesse o que contar, como contar, atendo-se por exemplo, mais aos fatos externos ou aos internos, ou focando na infância, ou no presente, nos relacionamentos amorosos ou na busca da própria identidade ou seja parece uma miscelânia, composta aparentemente de peças muito diferentes entre si.
E cada história é um capítulo onde só existe a narradora. Uma mulher conta sua história do princípio ao fim e no próximo capítulo vem a história da outra – o livro não relata como a fala de uma impactou as outras. As mulheres não interagem verbalmente entre si, aparentemente só escutam umas as outras.
E são mulheres completamente diferentes, tem idades entre 19 e 75 anos, origens sociais e culturais também muito diferentes, quase nada em comum a não ser o fato de serem pacientes da terapeuta. Elas também não se conheciam anteriormente e se reunem para contar as histórias em um dia inteiro a pedido da terapeuta. Só sabemos no final, quando a história dela é contada, o porquê ela fez isso.
No começo, devo confessar, o livro me incomodou um pouco, parecia que tudo estava meio solto e não havia um fio da meada. As histórias eram interessantes, fortes e bem no estilo íntimo e confessional que gosto, mas pareciam desconectadas.
À medida que fui avançando na leitura essa aparente desconexão foi se desfazendo e emergindo um mosaico rico e multifacetado das possibilidades de ser e viver como mulher nos dias de hoje. A sensação que me foi  ficando era como se eu estivesse escutando um coral composto por diferentes vozes, mas tendo como resultado uma mesma melodia. Tudo fazia sentido, formando uma unidade plena de diversidade.
Fui percebendo, usando uma imagem que me é muito cara, uma colcha de retalhos composta de diferentes, profundos, sutís e delicados detalhes do Feminino.
Terminei o livro muito emocionada!
 
Texto de Cristina Balieiro

4 comentários

  1. Oi Cristina,

    Também estou terminando de ler esse livro, ele me chamou a atenção pelo fato do tema ter a ver com meu trabalho com o Mulheres em Círculo. Estou gostando muito e preparando um post para indicá-lo na seção de leituras lá no blog.
    Tive a sensação de estar diante de uma jóia multifacetada, cada lado refletindo um aspecto do feminino.
    Abraço

  2. Foi a mesma sensacão que tive, Cristiane! Que legal a sintonia!
    Abraco
    Cris

  3. LizandraMA disse:

    Gostei muito também, justamente por essa variedade de vozes e origens. Achei muito legal também ver como essas histórias estão relacionadas às questões do Chile, um país que tem muito a ver conosco mas, ao mesmo tempo, é muito mais rígido em termos religiosos e morais. O impacto da ditadura sobre as pessoas (que a gente minimiza), por exemplo, ainda é cruel. A autora é muito conhecida no Chile, uma voz feminista forte. Também já li o "Albergue das mulheres tristes", que é lindo e recomendo pra quem gostou desse.

  4. Está nos meus livros "objeto de desejo"de leitura, por sugestão sua Li!
    Cris

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