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MULHERES MARCANTES: Simone Weil (1909/1943)

Simone Adolphine Weil foi uma escritora e filósofa francesa. Era apaixonada pelo tema da condição humana no mundo do trabalho. No final da sua curta vida torna-se uma mística. 

Simone nasceu em Paris numa família judia não-praticante. Revelando precocemente uma inteligência notável Simone falava grego aos doze anos de idade e aos 15, obteve um bacharelado em filosofia. Já demonstrava também ter uma personalidade singular, muitas vezes recusando-se a comer por haver fome no mundo e tendo decidido, desde muito jovem a permanecer virgem. Três anos depois de obter o bacharelado, vai para a Ecole Normale Supérieure, sendo uma das primeiras mulheres a estudar na instituição e onde formou-se nos primeiros lugares.

Em 1931, tornou-se professora numa escola secundária para moças. Lá ganhou o apelido de “Virgem Vermelha”, algo como um misto de freira e anarquista. Alternava o magistério com trabalhos em fábricas e no campo, porque dizia que o intelectual tinha que estar “na vida”. Ingressando no movimento sindical, foi a principal organizadora de uma greve geral que iria paralisar toda a cidade. Depois de dizer para suas alunas que “a família é prostituição legalizada… a esposa é uma amante reduzida à escravidão”, foi transferida de escola e de cidade. 

Aproveitando o período de férias de verão, Simone viaja até a Alemanha, onde presencia a situação política daquele país. Foi uma das primeiras pessoas, em 1932, a denunciar a barbárie que tomou conta de toda a Alemanha com o crescimento do movimento nazista, assim como a passividade dos social-democratas e o estranho silêncio dos comunistas stalinistas. 
De volta à França, continuou seu trabalho como professora em Auxerre, Roanne e Saint-Etienne, nesta última, dando aulas gratuitas aos mineiros. 
Em 1933, publicou um artigo considerado herético pelos marxistas ortodoxos “Vamos nós para a revolução proletária?”, no qual enfatizava que a opressão do proletariado era causada pelas técnicas da produção industrial, presentes tanto no capitalismo quanto no socialismo burocrático vigente na Rússia.

Em 1934, Simone licenciou-se por dois anos do magistério para tentar viver como e entre operários. Todavia, sua resistência física só lhe permitiu levar o projeto até agosto de 1935, quando, trabalhando na linha de montagem de carros da Renault, caiu doente com uma inflamação na pleura. A dolorosa experiência do trabalho fabril em condições de aguda exploração é alimento para reflexões que marcam toda sua trajetória como pensadora. No “Journal d’usine” (“Diário da fábrica”) que ela manteve durante esse período observa que “a exaustão me fez esquecer finalmente as verdadeiras razões pelas quais estou na fábrica; ela faz quase invencível a tentação que esta vida traz consigo: não mais pensar”. 
Ela ficou tão traumatizada por sua experiência, que abandonou imediatamente quaisquer noções românticas que ainda tivesse sobre o proletariado e sua (ou de quem quer que fosse) habilidade para ajudá-lo. Descobriu que a opressão não resulta em rebelião, mas em obediência e apatia – e até mesmo na internalização dos valores do opressor. 

Em julho de 1936, com a eclosão da Guerra Civil Espanhola, Simone juntou-se à causa republicana. Mesmo sendo míope e frágil, recebeu um rifle e foi incorporada a uma unidade de anarquistas. Sem nenhum preparo para a vida militar, ela feriu-se numa panela de óleo fervente e teve de ser resgatada por seus pais, que a mandaram para Assis, na Itália, para recuperar-se. Desanimada com as atrocidades que havia visto seu próprio lado cometer, Simone reafirmou seu pacifismo.

Em Assis, teve também uma significativa experiência religiosa: “estando só na capelinha românica do século XII de Santa Maria dos Anjos, incomparável maravilha de pureza onde São Francisco rezou muitas vezes, alguma coisa mais forte do que eu, me obrigou, pela primeira vez na vida, a me por de joelhos”. 
Forçada a parar de lecionar por causa de constantes enxaquecas, Simone tornou-se crescentemente obcecada por questões metafísicas. Começou a estudar os gnósticos, os pitagóricos, o budismo e o taoismo. Um dia ao ouvir um canto gregoriano num mosteiro beneditino enquanto sua enxaqueca estava no auge, ela “experimentou a alegria e amargura da paixão de Cristo como um evento real” – e pela primeira vez começou a pensar em si mesma como uma pessoa religiosa. 

Quando começa a segunda guerra, de início recusa-se a abandonar Paris, mas por fim cede diante da insistência dos pais. Em 1940, os Weil fogem para Marseille. Lá conhece o padre católico Joseph-Marie Perrin, que fica tão impressionado com os pensamentos dela sobre a cristandade que a convida a batizar-se. Simone, todavia, recusa a oferta. O padre Perrin a apresenta então a Gustave Thibon, um escritor católico que administrava uma colônia agrícola. Lá, distante dos pais que tinham ido para os Estados Unidos, ela pode praticar o ascetismo do modo como sempre havia desejado: trabalhou nos campos e vinhedos durante a colheita ao lado dos camponeses, dormia num saco de dormir no chão e se alimentava somente de cebolas e tomates. E também escreveu muito. 

Em 1942, ela deixa seus diários com Thibon e emigra para os Estados Unidos, de onde começa a planejar seu retorno à Europa. Escreve para o governo provisório francês exilado em Londres, querendo ajudar na retomada quando a França se libertasse da ocupação alemã. Simone vai para Londres trabalhar nisso, mas desapontada com o nacionalismo dos gaullistas, e afirmando que não tinha o direito de comer mais do que seus camaradas na França ocupada, deixou-se passar fome até que teve de ser hospitalizada. 

Recuperada, ela fez um último esforço para compilar suas idéias sobre a tão sonhada “sociedade sem opressão” no livro “O enraizamento”. Pouco depois de terminar “O Enraizamento”, aparentemente abraçando o ideal cátaro de morrer antes de sucumbir às tentações da carne e ao desejo de poder, passa a comer quase nada. Simone recebeu um diagnóstico de tuberculose em abril de 1943. Enviada para um sanatório no campo, recusou-se a se alimentar, insistindo que suas refeições deveriam ser mandadas para a França. Morreu de parada cardíaca aos 34 anos de idade no Sanatório Grosvenor, em Ashford, Kent.

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