MULHERES MARCANTES: Florbela Espanca (1894/1930)
Florbela Espanca, batizada como Flor Bela Lobo, e que optou por se autonomear Florbela d’Alma da Conceição Espanca, foi uma poeta e escritora portuguesa.
A sua vida, de apenas trinta e seis anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade.
O seu pai João Maria Espanca era casado com Mariana do Carmo Toscano (que era estéril), e seus dois filhos Florbela e Apeles eram filhos de Antonia da Conceição Lobo, registados como filhos ilegítimos de pai incógnito. Apesar disso o pai criou-os na sua casa, e, Mariana, sua esposa era madrinha de batismo dos dois. Mesmo assim só reconheceu legalmente a filha depois de 19 anos de sua morte.
Entre 1899 e 1908, Florbela frequentou a escola em Vila Viçosa, Alentejo. As suas primeiras composições poéticas datam dos anos 1903 – 1904. Florbela ingressou depois no Liceu Masculino André de Gouveia em Évora, onde permaneceu até 1912. Foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar o curso secundário.
Em 1913 casou-se em Évora com Alberto de Jesus Silva Moutinho, seu colega da escola. Em 1916, a revista Modas e Bordados (suplemento de O Século de Lisboa) publica um soneto seu. Completou o 11º ano do Curso Complementar de Letras e matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, sendo uma das 14 mulheres que o fizeram entre 347 inscritos.
Em 1919 sofre um aborto espontâneo, que deixa sequelas em sua saúde e sai a sua primeira obra, Livro de Mágoas, um livro de sonetos. A tiragem esgotou-se rapidamente.
Um ano mais tarde, ainda casada, passou a viver com António José Marques Guimarães, tenente de Artilharia da Guarda Republicana. Em 1920 interrompeu os estudos na faculdade de Direito. Em 1921 pôde finalmente casar-se com António Guimarães.
Em Janeiro de 1923 sofre novo aborto e é publicado a sua segunda coletânea de sonetos, Livro de Sóror Saudade, edição paga pelo pai. Para sobreviver, Florbela começou a dar aulas particulares de português.
Seu casamento acaba e ela é rejeitada pela família que passa a não falar com ela por dois anos o que lhe traz muito sofrimento. Em 1925, divorciou-se pela segunda vez e casou-se com o médico Mário Pereira Lage com quem já vivia desde 1924.
Em 1927 a autora começou a sua colaboração no jornal D. Nuno de Vila Viçosa. Naquele tempo não encontrava editor para a coletânea Charneca em Flor. Preparava também um volume de contos, provavelmente O Dominó Preto, publicado postumamente apenas em 1982. Começou a traduzir romances franceses para as editoras Civilização e Figueirinhas.
No mesmo ano seu irmão, Apeles Espanca, faleceu num trágico acidente de avião. A sua morte foi devastadora para Florbela. Em homenagem ao irmão escreveu o conjunto de contos de As Máscaras do Destino, volume publicado postumamente em 1931. Seu casamento começa a deteriorar-se e ela se apaixona pelo pianista Luis Maria Cabral.
Em 1928 tenta o suicídio pela primeira vez.
Em 1930 Florbela começou a escrever o seu Diário do Último Ano, publicado só em 1981. A 18 de Junho começou a correspondência com Guido Battelli, professor italiano, visitante na Universidade de Coimbra, responsável pela publicação de Charneca em Flor em 1931. Colaborava também no jornal Portugal feminino de Lisboa e nas revistas Civilização e no Primeiro de Janeiro, ambos do Porto.
Florbela tentou o suicídio novamente em outubro e em novembro de 1930, quando finalmente morre aos 36 anos.
Foi uma autora polifacetada: escreveu poesia, contos, um diário e cartas; traduziu vários romances e colaborou ao longo da sua vida em revistas e jornais, mas Florbela Espanca antes de tudo é poeta. É à sua poesia que ela deve a fama e o reconhecimento. A temática abordada é principalmente amorosa. O que preocupa mais a autora é o amor e os ingredientes que romanticamente lhe são inerentes: solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo e morte.
Somente duas de suas obras foram publicadas durante sua vida. A obra poética de Florbela foi reunida por Guido Battelli num volume chamado Sonetos Completos, publicado pela primeira vez em 1934. Mas foi somente em 1994 que toda sua obra saiu publicada.