O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Minha tribo: as irmãs que a vida me deu, por Duda Dorea

Duda Dorea é uma querida, sábia e sensível amiga de jornada. Artista plástica e psicóloga criativa, nesse belo texto (que ela mesma ilustrou)  fala da nossa tribo… a qual com certeza você que está lendo também pertence.

“No último encontro do Mitologias do Feminino, Cris e Bia falaram sobre a jornada da Heroína e nos contaram histórias que coletaram em suas entrevistas e pesquisas. Foi mais um encontro maravilhoso, e saí de lá decidida a escrever sobre a jornada, retomando um trabalho antigo de 2006 sobre o processo de individuação da mulher.

Ensaiei o texto algumas vezes sem muito sucesso. Pensei que estava indo pelo caminho errado e escolhi um novo tema. Fiz tantos esboços que quase terminei o caderno (sim, sou dessas que prefere escrever à mão). Mas só agora, quase perdendo o prazo para entregar o texto, consegui compreender que o tema era outro, ainda que sobre a jornada da heroína.

O convite para escrever foi um verdadeiro chamado para a aventura, que eu aceitei com um sorriso no rosto e com os olhos brilhando. Mas nenhuma aventura acontece sem rupturas e sem aprendizados, e a minha não seria diferente. Logo no primeiro limiar lá estava eu com bloqueio de escritora.

Mas eu tinha tempo e a certeza que encontraria inspiração em um grande evento que estava por vir. Guardei os rascunhos mal-acabados e fui para o mundo.

O que eu não imaginava é que esse evento, recheado de palestrantes maravilhosos e artistas inspiradores, ia me dar uma rasteira e me jogar de cara no chão. De repente o que deveria ser uma injeção de ânimo e energia havia desatado as torneiras da alma, e eu não prestava para nada além de chorar diante das minhas limitações (reais e imaginárias).

Foi assim que acordei hoje, duas semanas depois do último encontro, tentando fazer sentido depois do tombo.

Mas a vida é muito generosa comigo, e eu fui almoçar com duas amigas queridas que também estiveram no mesmo evento. Enquanto compartilhávamos nossas percepções sobre os últimos dias e sobre os desafios que estamos vivendo, eu fui nomeando meus sentimentos e reconhecendo os aprendizados até que, como num lampejo de luz, descobri o tema para esse texto aqui: AS ICAMIABÁS

Eu aprendi sobre as Icamiabás no livro da Cris, O Legado das Deusas. Nele, ela nos conta sobre essas índias míticas, bravas guerreiras que cultuavam a Deusa Jacy e a Mãe Muiraquitã. Eram mulheres que viviam livres e independentes, zelando umas pelas outras e pela floresta onde habitavam. A história mítica das Icamiabás nos lembra da importância e da necessidade que nós mulheres temos de nos apoiar em outras mulheres. Porque vivemos inúmeras experiências que só podem ser compartilhadas e compreendidas por outras mulheres.

Por isso o encontro com minhas amigas, essas mulheres incríveis que estão vivendo as suas jornadas e que abrem seus corações, revelando suas dores e aprendizados, que me ajudam a levantar no momento que dou com a cara no chão, foi tão fundamental. São elas que, ao viverem suas verdades conseguem olhar nos meus olhos enquanto me escutam falar da minha dor e, sem precisar dizer uma palavra de incentivo, me carregam no colo até que eu possa caminhar sozinha novamente.

Nós precisamos de irmãs.

Precisamos de outras mulheres com quem podemos contar e que nos servem de modelo e de inspiração.

Eu tenho algumas musas para quem olho de longe, a uma certa distância, e elas são muito importantes. Elas me mostram que caminhos foram abertos e que posso ir muito longe. Marisa Monte, Brené Brown, Djamila Ribeiro, Tia Má, Beyoncé, para citar algumas mulheres que estão transformando o mundo.

Cris e Bia que estão mais perto, e que são minhas musas, sem sombra de dúvida.

Mas as mulheres mais importantes na minha vida, as que fazem a maior diferença na minha caminhada – a minha tribo de Icamiabás – são as que estão segurando a minha mão quando eu dou com a cara no chão. Porque sem elas eu ficaria mais tempo sentada no chão e choraria sozinha, e talvez levasse uma vida inteira para conseguir me levantar.

No fim das contas esse texto terminou me levando de volta ao meu trabalho de 2006, em que eu falava sobre a diferença entre a jornada do herói e a jornada da heroína. Porque ao contrário da jornada masculina, as heroínas não andam tão bem quando estão sozinhas. Nós precisamos uma das outras. Nosso caminhar é coletivo, e a jornada faz mais sentido quando caminhamos juntas”.

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