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Metrô de Moscou: imagens arquetípicas


 O metrô de Moscou tem estações espetaculares, tanto por causa da arquitetura como pelas imagens de mosaicos ou vitrais. Elas foram construídas nos anos 50 e final dos 40 para servir tanto de vitrines das realizações soviéticas como de abrigos antinucleares – por isso são profundíssimas, tornando meio delirante a sensação de descer nas escadas rolantes.
Vendo minha surpresa com a beleza dos espaços, nossa guia disse que elas foram descritas como as “catedrais de Stalin”. Todas tem formato longilíneo, composto de arcos e/ou tetos trabalhados; do mesmo jeito que cada igreja é dedicada a um santo ou evento cristão, cada estação tem um tema: por exemplo, uma estação homenageia a produção agrícola soviética, outra a revolução comunista ou um compatriota famoso, etc. Num lugar de honra, em vez da imagem de Jesus, há um busto de Lenin; algumas imagens retratam paraísos na Terra, como nas igrejas o paraíso é no Céu. Num desses paraísos na Terra de Stalin, camponeses são mostrados felizes e rodeados de trigo, quando na realidade passavam fome na época em que foi feito o mosaico.  
Nesta foto, você pode ver a imagem de uma mulher carregando uma criança nos braços. É um vitral enorme, dourado, de muita força.

A guia me disse:

– Veja como o Partido Comunista foi inteligente: pegou a imagem da Virgem com a Criança, já implantada na mente das pessoas, e deu-lhe outro sentido, o de uma Camponesa com seu filho.

– Não foi o Partido que inventou isso, respondi. – Os cristãos fizeram isso há 2000 anos atrás, quando pegaram a imagem da deusa egípcia Iris com seu filho Horus e a rebatizaram de Maria e Jesus.

A guia ficou me olhando sem responder.
Podemos supor que antes os egípcios também a pegaram de outro povo, que talvez também tenha feito o mesmo… Jung chamou estas figuras de imagens arquetípicas: impressões que fazem parte nossa psique e que atravessam os tempos independentemente das mudanças de significado que os homens lhes dão
Não apenas padres e pastores, mas todo tipo de chefe religioso e político, ditadores, comerciantes, marketeiros, propagandistas, etc, as usam para atingir seus objetivos. E não apenas as imagens, mas também os próprios espaços assim tratados – sejam catedrais, igrejas, metrôs, templos, shopings ou o que seja – também são arquetípicos. 
Podemos ser inconscientemente muito manipulados pelos usos que fazem dessas coisas…
No vídeo abaixo, mais das catedrais de Stalin. 
Texto e fotos de Bia Del Picchia

2 comentários

  1. Bia você está fazendo uma viagem incrível, europa oriental e rússia!
    Adorei sua fala para a guia…
    Bjs

  2. Já voltei, e foi incrivel mesmo!
    beijão, Cristiane!

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