O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Mestras em qualquer tempo

Hoje posto aqui um trecho da matéria que a querida amiga e grande jornalista e escritora Raphaela de Campos Mello escreveu em 2014 para a revista Bons Fluídos com base no meu livro O LEGADO DAS DEUSAS que esse ano que está terminando chegou em sua segunda edição. E o volume 2 está vindo por aí…


A sabedoria contida nos mitos não envelhece. Por isso, é sempre enriquecedor visitar as narrativas protagonizadas pelas deusas e delas extrair preciosas lições para a vida contemporânea

A capacidade de fabular, de inventar tramas e personagens imersos nas tintas do simbólico – a linguagem da psique humana – vem de longa data. É como se, para conseguir chegar ao final da estrada, precisássemos extrair incentivo, esclarecimento, perspectiva de algum lugar. Daí nossa relação atemporal com a mitologia. Manancial de símbolos a espelhar a saga de homens e mulheres na Terra, com seus potenciais e fraquezas.
“Os mitos são verdades fundamentais da existência humana e, exatamente por esta razão, não envelhecem”, afirma Telma Ventura, psicóloga junguiana especialista em mitologia simbólica e coordenadora em São Paulo da JCF Mythological Round Table® Estudos Mitológicos, ligada à Fundação Joseph Campbell. Segundo ela, as narrativas lendárias não só refletem o desenvolvimento do indivíduo em sua relação consigo mesmo e com o mundo como também desnudam os modos de ser e operar de todos nós. “Além disso, essas metáforas perenes preenchem as possíveis lacunas existenciais humanas”, complementa.
Muito já se falou sobre as deusas, principalmente gregas e romanas. No entanto, o tema não se esgota aí. Inúmeras divindades provenientes das mais diversas tradições povoam o arquivo mitológico universal. Um grupo sortido e pouco conhecido de vinte divindades dá corpo ao livro-oráculo O Legado das Deusas (Pólen Editorial), acompanhado de um baralho com 22 cartas, da psicoterapeuta junguiana, coordenadora de círculos de mulheres e estudiosa da obra do mitólogo Joseph Campbell, Cristina Balieiro, de São Paulo. “Ser mulher é ser múltipla. E cada deusa pode nos ajudar a repensar uma de nossas facetas”, afirma ela. Não há roteiro fixo para esse diálogo acontecer. Tudo depende da fase que estamos atravessando, independentemente de idade. “Todas elas falam para todas nós. Inclusive, várias forças internas podem emergir num mesmo período. Afinal, a gente nunca é uma coisa só”, destaca a pesquisadora.
O importante, ela avisa, é conhecer esses potenciais para que possam atuar sobre nós de forma consciente. Orientando, libertando, encorajando, curando, fertilizando os caminhos. Trata-se de uma conversa constante e simples que requer pausas para refletir sobre o que determinada representação nos diz, como toca nossa percepção. “Essa é uma maneira de alimentar o mundo interno e de conferir significados mais profundos às experiências”, garante a psicóloga, que faz uma ressalva: “Nenhum símbolo oferece apenas uma interpretação. Inúmeras leituras são possíveis dependendo da sensibilidade e do repertório de cada um”.

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