O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Imagens míticas de Marcelo Grassmann rimam com poesia de Rudolf Steiner sobre a coragem


As figuras de Grassmann, premiado artista plástico brasileiro, falecido ano passado, tem atmosfera de lendas e contos de fadas. Seus cavalheiros e cavalos, damas e dragões vivem num mundo mágico, lírico, trágico, forte, nobre – que deve ser seu jeito de enxergar o mundo mitológico. Totalmente diferente do de Vasnetsov, que eu trouxe aqui tempos atrás. Há mil maneiras de enxergar o visível, assim como há mil maneiras de ver o simbólico. Uma para cada pessoa, acho…

Para mim, são imagens que rimam com esta poesia do Rudolf Steiner, o fundador da Antroposofia, da Pedagogia Waldorf, da agricultura biodinâmica, da medicina antroposófica e da Euritimia. Ela fala de coragem, requisito fundamental de um cavalheiro e lógico, de uma dama. A coragem nasce do medo toda vez que é invocada. Segundo o hinduísmo, é uma qualidade que mora entre a covardia e a temeridade. Sem coragem fica difícil enfrentar baratas, quanto mais dragões. Sem coragem fica muito mais difícil enfrentar separações e reconciliações, viagens e retornos, empregos novos e demissões, nascimentos e falecimentos, depressões e dias de extrema alegria. Até para desenhar dragões e escrever poesia é preciso coragem.

Forjando a armadura
 (Rudolf Steiner)

Nego-me a submeter-me ao medo
que me tira a alegria da minha liberdade
que não me deixa arriscar nada.
que me torna pequeno e mesquinho, que me amarra,
que não me deixa ser direto e franco, que me persegue
que ocupa negativamente a minha imaginação,
que sempre pinta visões sombrias.

No entanto não quero levantar barricadas por medo do medo
Eu quero viver e não quero encerrar-me.
Não quero ser amigável por medo de ser sincero.
Quero pisar firme porque estou seguro, e não para encobrir o meu medo.
E quando me calo quero fazê-lo por amor e não por temer as
consequências de minhas palavras.

Não quero acreditar em algo só pelo medo de não acreditar em nada.
Não quero filosofar, por medo que algo possa me atingir de perto.
Não quero dobrar-me só porque tenho medo de não ser amável.
Não quero impor algo aos outros pelo medo de que possam impor algo a mim.

Por medo de errar não quero me tornar inativo.
Não quero fugir de volta ao velho, o inaceitável, por medo de não me
sentir seguro de novo.
Não quero fazer-me importante porque tenho medo de ser ignorado.

Por convicção e amor quero fazer o que faço e deixar de fazer o que
deixo de fazer.
Do medo quero arrancar o domínio e dá-lo ao amor
E quero crer no reino que existe em mim.

 

Dica: está acontecendo uma grande exposição de Grassmann na Pinacoteca de SP, link aqui

Post de Bia Del Picchia

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