Habemus Papam e Tão forte tão perto: dois filmes diferentes mas com algo em comum.
Habemus Papam (em cartaz) conta a história de um cardeal que é eleito papa e não se sente preparado para isso.
Como ele tem um ataque de pânico e não quer assumir, é chamado um psiquiatra ateu (interpretado pelo próprio diretor do filme, Nanni Moretti) para ajudá-lo. Ele acaba fugindo, coisa que o Vaticano tenta esconder e vai protelando uma decisão, enquanto os cardeais precisam arrumar meios de passar o tempo até seu retorno.
Em uma cena hilária eles jogam voleibol liderados pelo psiquiatra mas, no geral, o filme é uma comedia discreta e uma critica nada discreta à Instituição católica.
O homem que não quer ser Papa (Michel Piccoli, excelente aos 85 anos de idade) é tremendamente humano, melancólico, desencantado, frágil e forte em sua integridade.
Simpatizamos com ele, mas é evidente que ele não vê no Papado uma missão que deva cumprir, nenhuma transcendência ou sentido no que lhe acontece, enfim, nenhuma Jornada, ainda que fosse pela coragem da recusa.
O que sente é apenas um pouco de remorso por coisas não vividas e a sensação de inadequação a sua posição, como pode acontecer a qualquer executivo estressado porque promovido a um cargo ao qual não se sente qualificado.
Nada mais.
Tão forte e tão perto (saiu de cartaz, mas estará em breve nas locadoras) conta a historia de Oskar, um garoto com Síndrome de Asperger. Ele tem uma excelente relação com o pai (Tom Hanks), que vai morrer no ataque às Torres Gêmeas em 11/09.
Uma das caracteristicas dessa Sindrome é uma grande inteligência lógica aliada à falta de compreensão em relação a coisas que não são racionalmente explicadas, além de medos e sintomas parecidos com os de transtorno obsessivo compulsivo.
No closet do pai, Oskar encontra uma chave e acha que, se achar a fechadura na qual ela sirva, de alguma forma ali haverá uma mensagem do seu pai para ele.
Em busca dessa mensagem – desse sentido para a dor de sua perda – junto com um velho (Max Von Sydow, candidato ao Oscar 2012 de Melhor Ator Coadjuvante) que também tem feridas a curar, ele vai revirar uma Nova York ainda enlutada pelo trauma do ataque.
Sem aproximação com a mãe (Sandra Bullock), Oskar faz uma Jornada heroica, e não desiste enquanto não encontra uma resposta a seu mistério.
Ao contrário do quase papa do outro filme, suas fraquezas (a Sindrome de Asperger e uma falha grave revelada no final) o instigam em vez de paralisa-lo, e acabarão por leva-lo à superação e redenção. E nós que assistimos também saímos mais leves do cinema.
Enfim, eu quis falar dessas duas obras juntas porque acho que a ideia de que há um sentido nas coisas e de que existe algo a ser buscado numa Jornada Heróica fazem toda diferença, tanto nos filmes quanto na vida…
Texto de Beatriz Del Picchia
Texto de Beatriz Del Picchia