O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Filme O discurso do Rei e a coragem de se abrir

O Principe Albert, segundo filho do rei da Inglaterra, é um homem tímido e massacrado pelo rígido sistema educacional das classes altas inglesas,que fez tantas vitimas entre os meninos sensíveis (e em poetas, como Shelley, por exemplo).

O Príncipe quase não tem voz própria – literalmente, é gago.
Só que, por circunstancias excepcionais e às vésperas da Segunda Guerra, é forçado a se colocar, fazendo discursos para platéias e pelo rádio.
Os tormentos e vexames públicos seguem até que conhece Lionel Logue, um australiano cara de pau que, sem as devidas qualificações, vai tratar dele.
A história mostra o desenrolar do processo psicoterapeutico, disfarçado mas evidente, que leva o Príncipe a fazer sua Jornada do Herói até chegar a ser o corajoso Rei George VI.

Como ele, quem nunca se sentiu um tanto inadequado para a grandeza e para o sucesso? Se muita gente fica besta ao ganhar poder ou dinheiro (o verdadeiro teste de caráter), outros ficam paralisados na hora de dar um salto.
Talvez, como disse o Calligaris numa excelente crônica sobre esse filme, o maior problema seja nos identificarmos totalmente com os papéis que “temos” de fazer para o mundo – porque no caso, aparentemente nem o Príncipe nem Lionel tinham as qualificações necessárias para o que lhes foi exigido.

No entanto, ambos se saem bem. O discurso do Rei me lembrou uma velha historinha de minha infância, chamada “O príncipe e o mendigo”, que conta a relação de dois meninos de classes sociais opostas. Apesar, ou também por causa dessa oposição, a amizade entre os dois gera um enorme impulso criativo e enriquecedor para ambos.

Nesse filme discreto, chique, todo em tons de cobre e de ternos escuros, masculino e intimista, o que brilha é a relação curativa que pode acontecer quando as pessoas se arriscam a sair de suas prisões mentais, dos preconceitos intelectuais, morais e de classe, para deixar entrar alguma coisa atrevida e cheia de vida, seja ela simbólica ou alguém de carne e osso.

Arquetípica figura do Mago do tarô, de Hermes, de Exu, Lionel abre os caminhos para o nobre homem escondido atrás de seus complexos, e de por alguns momentos também para quem assiste a esse filme. Gostei!
 Texto de Beatriz Del Picchia

1 comentário

  1. KÁTIA BUENO disse:

    Amei o filme e adorei a reflexão que encontrei aqui. Realmente é fantástica a relação curativa que acontece entre eles!
    Obrigada por compartilhar este olhar profundamente sábio de vocês.
    Beijos

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