O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Filme Meia Noite em Paris, de Woody Allen

Gil Pender, um roteirista de Hollywood que quer escrever um livro, vai a Paris com sua noiva e sogros.
Parece que estão na mesma cidade, mas não estão.

Para Gil, Paris é um lugar mágico, a cidade que inspirou seus ídolos: escritores, pintores, músicos e cineastas como Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Cole Porter, Picasso, Buñuel.

Para sua noiva e sogros, Paris é a cidade de restaurantes sofisticados, de compras de luxo, de uma intelectualidade metida a besta que descreve arte sem senti-la.
Eles são pessoas “práticas” e “objetivas”, em oposição a Gil, que é “romântico” e “sonhador”.

Oposição mesmo: as duas tribos navegam em coordenadas diferentes.
Eu sei bem, porque sou da tribo dos “sonhadores”.
Lembro-me de que certa vez estava numa magnífica praça de Florença, pensando em tudo que aconteceu lá, quando uma colega de viagem, da tribo dos “práticos”, me perguntou com certo descaso na voz, igual ao que a noiva de Gil tem dele:
– Sonhando, Bia?
Claro que essa colega estava fazendo coisa muito mais importante: comprando tapetinhos de gobelin.

Sim, devo confessar que o descaso é mútuo.
Para mim, como disse Nelson Rodrigues, eles são os idiotas da objetividade, os que reduzem tudo a mercadoria.
Infelizmente, parece que estão em maioria. Mas garanto que não se divertem tanto quanto nós.

Assim, a Paris de Gil, diga-se de Woody Allen, é belíssima, é apaixonante, é de se perder a cabeça.
De certa forma, ele a perde mesmo, faz uma viagem no tempo e vai para o que acha que foi uma época de ouro, a Paris da década de 1920, quando sente, como lhe diz Hemingway, “o nosso constante medo da morte desaparecer num momento de paixão”.

Tem então a experiência de viver a vida encantada, de ter seu sonho realizado.
E se pergunta se o encanto não está sempre naquilo que fica fora de nosso alcance, seja uma época da história, um lugar ou uma pessoa.
Como aterrar no mundo sem abrir mão do encanto e virar um dos “práticos”?

Bom, os ídolos de Gil aterram seus sonhos tornando-os concretos na forma de arte: em pintura, música, literatura, cinema…
Ou fazendo da própria vida uma obra de arte, como queria Nietzsche.

E se essa vida acontece na bela Paris de qualquer época, nos braços de alguém que nos entende, de preferência da mesma turma, melhor ainda.

PS- Leio agora que alguns críticos disseram que Woody Allen fez uma caricatura de Hemingway. Mas Gil Pender não é uma caricatura de Woody Allen, e sua Paris uma caricatura da “verdadeira” Paris? Acho que, no mínimo, isso dá certa coerência à coisa toda. E aproveito para colocar aqui uma questão para você: – Qual será a “verdadeira” Paris, mesmo?

Se você gostou desse post, leia também: O Mágico
 Texto de Beatriz Del Picchia

2 comentários

  1. Enquanto assistia a esse filme na FNAC com o Pedro e dois amigos nossos, pensei algo parecido com teu texto e tive muita vontade de descobrir qual a verdadeira Paris que mereço! Espero que eu seja das sonhadoras também e que minha viagem para lá em 2012 realmente saia do papel!

    Ah, coincidentemente vivi algo parecido com o filme aí em São Paulo: uma amiga maranhense que também estava aí confessou-me que não gostou muito da cidade, achou "fria" e apressada… Enquanto isso acho uma cidade encantadora que me abraçou nas vezes que fui, que faz eu respirar um ar de esperança, cultura e algo mais que não sei dizer, só sei sentir!

    Beijo e estou com saudades de todos, inclusive do Barney!

  2. Ah, Jessica, eu acho que o encanto – e provavelmente a verdade – está mais nos olhos de quem a vê do que no que é visto… E as pessoas que falam tanto mal de SP podem não perceber que a verdadeira SP se esconde deles. Tenho certeza de que voce vai conhecer a melhor Paris que existe!
    beijos!

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