O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

É preciso matar o “anjo do lar”

Em 1931, a escritora Virginia Woolf fez o discurso “Profissões para mulheres” para a Sociedade Nacional de Auxílio às Mulheres, em Londres, no qual disse: 

Quando eu estava escrevendo descobri que, se fosse resenhar livros, ia ter que combater certo fantasma. E o fantasma era uma mulher […] dei a ela o nome de “O Anjo do Lar”. Ela era extremamente simpática. Imensamente encantadora. Totalmente altruísta. Excelente nas difíceis artes do convívio familiar. Sacrificava-se todos os dias. Se o almoço era frango, ela ficava com o pé; se havia ar encanado, era ali que ia se sentar – em suma, seu feitio era nunca ter opinião ou vontade própria, e preferia sempre concordar com a opinião e a vontade dos outros. […] Fui para cima dela e agarrei-a pela garganta. Fiz de tudo para esganá-la. Minha desculpa, se tivesse de comparecer a um tribunal, seria legítima defesa. Se eu não a matasse, ela é que me mataria. Arrancaria o coração da minha escrita.


Apesar do movimento feminista, de toda uma geração de mulheres lutadoras que nos precederam, de um grande número de mulheres que se conscientizam cada vez mais de suas reivindicações e direitos, de um imenso material produzido da ótica feminina e feminista, “O Anjo do Lar” ainda tem de ser morto dentro de cada uma de nós! A doutrinação feita por séculos a nós pelo patriarcado ainda ressoa forte; não é fácil se libertar.

 

Trecho do livro CÍRCULOS DE MULHERES – AS NOVAS IRMANDADE

2 comentários

  1. Caliandra disse:

    Me sinto realmente mal (culpa ou vergonha em reconhecer que ela está aqui) por não conseguir estrangula-la.
    Dependente do marido, apesar de certa liberdade, vive em torno da família, sempre na ânsia da fuga. Lhe falta profissão, um ofício que lhe sustente.
    Raiva, culpa, impotência, medo, paralisia.

    1. crisbalieiro disse:

      Sempre é tempo, Caliandra, sempre é tempo!

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