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Creta: sociedade modelo de parceria do feminino e inspiração do mito de Atlântida?

Estudar o passado é modificar o futuro. Civilizações que oprimem mulheres oprimem também outras minorias e depois a todos os outros, pois sua lei é a da força – e a força não quer limites para si mesma. A história de Creta conta disso.

Muitos mitos narram que existiram Eras douradas e paraísos terrestres. De 4000 a 1400 AC Creta não foi um paraíso, mas há fortes indícios arqueológicos de que foi uma sociedade justa, matrilinear, sem guerras e sem grande autoritarismo pois Conselhos moderavam o poder do rei.

Não era rica mas o alimento era abundante, havia pouca desigualdade social e floresciam as artes, esportes e arquitetura. Mulheres ocupavam altos cargos públicos e religiosos, e os valores ditos femininos, como concórdia e sensibilidade, eram valorizados. O povo tinha uma ardorosa fé na Grande Deusa ligada à natureza, e sua religião era festiva e alegre.

Foi o que se chama uma organização social de parceria. O contrário dela é a organização social de dominação, que é hierárquica, voltada para a guerra e conquista, patriarcal, com lideres poderosos e desigualdade econômica e social, na qual mulheres e valores ditos femininos não tem valor e são subjugadas ao masculino.

Porém Creta sofreu duas derrocadas. A primeira foi com um tsunami fortíssimo, que quase acabou com a ilha próxima de Tera (hoje Santorini) e chegou até ela. Alguns associam esse fato a ter inspirado o mito de Atlântida como foi contado por Platão.

A segunda foi a invasão dos arianos, povos guerreiros conduzidos por sacerdotes também guerreiros, e seus deuses masculinos. Neles a regra é a dominação masculina, a violência e uma estrutura hierárquica e autoritária.

Essas tribos valorizavam não o poder de gerar vida/a Deusa, mas o poder de tirar vida/Deuses Guerreiros. Eles usavam os metais, que os povos agrícolas usavam para construir ferramentas, para construir armas. Creta foi uma das últimas civilizações a cair sob seu domínio, mas acabou sucumbindo há cerca de 3000 anos atrás.

Depois da invasão, a Deusa e as mulheres foram reduzidas a esposas ou amantes dos homens, a guerra e a escravização dos mais fracos tornaram-se a norma. Aldeias foram arrasadas, tradições e artefatos destruídos, o desenvolvimento desapareceu na obscuridade. Com o tempo, os invasores adquiriram algumas sofisticações dos cretenses, mas a redução do papel social, econômico e religioso das mulheres e a subjugação delas aos homens eram tão importantes que continuaram sem se modificar muito.

Riane Eisler, autora do livro O cálice e a espada, de onde tirei essas informações, também afirma que organizações sociais de parceria e de dominação se alternam ao longo da história. Não chegamos ao ponto de sermos uma sociedade de parceria como a cretense, mas demos alguns passos para isso nos últimos tempos.

Mesmo assim, agora parece que estamos correndo o risco de estar passando pela mesma derrocada de Creta! Líderes truculentos, conquistas sociais ameaçadas, o “outro” visto como inimigo, valorização da violência e competição, radicalizações que geram guerras… Tudo isso faz parte da organização social de dominação.

Já vimos esse filme tantas vezes! Vamos ver de novo?

 

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