Ciência e religião, por Frei Betto e Marcelo Gleiser
No lançamento conjunto dos respectivos livros na Livraria da Vila, os dois conversaram sobre a relação sempre difícil entre a ciência e a religião.
Papo aberto e inteligente, que tive a sorte de presenciar.
Abaixo transponho alguns trechos para vocês, na minha versão tirada de memória e de poucas anotações.
Frei Betto:
Não há nada de teologia na Bíblia, ela é uma serie de “causos”, de historias sobre o povo judeu escrito numa linguagem popular. E a linguagem popular não é teórica, é imagética. Isso deu margem a interpretações literais para os que não entendem bem essa forma de expressão.
Antigamente, os mitos eram usados para explicavam a natureza. E também o Deus que conhecemos era usado para “tapar os buracos” dos mistérios do mundo que hoje a ciência explica em boa parte. É um erro jogar para Deus aquilo que não sabemos explicar, porque quando a explicação chega Deus se reduz. Ora, Deus não é isso!
A experiência de Deus é uma experiência amorosa.
Livro: A obra do artista, editora José Olympio
Marcelo Gleiser:
Uma das grandezas do homem é ir à busca do mistério. É essa inquietação humana que nos leva a descobertas e desvendamentos.
A ideia da raridade da vida inteligente no universo nos dá um papel cósmico maior do que era antes.
A ideia (platônica) de que a criação é perfeita e simétrica é um preconceito que não se revela verdadeiro… O desequilíbrio, não a simetria, é o que faz o movimento e a evolução. Tudo que se move se move por causa de um desequilíbrio. O que está equilibrado é imóvel. E o tempo é que traz a mudança.
O dogma absoluto da ciência é que se uma hipótese não é testada ela não é ciência. Isso complica pensar na hipótese da existência dos multiuniversos.
A meditação é outra forma de relação com o universo, é uma espécie de captação com algo que é maior do que você.
Livro: a criação imperfeita, editora Record