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A Velha Sábia… ou ficar esperando a morte chegar?


Xinga-se alguém de velha ou velho. Também falamos: tal pessoa morreu cedo demais. Percebem como é incoerente? Ou se morre cedo demais ou se fica velho; não há opção.  Também dizemos:  Fulana é “velha com espírito moço”, o que é tão absurdo como “preto de alma branca”. Preconceito de cor, no segundo caso, e de idade, no primeiro. Se pensamos que somos apenas o corpo, na velhice viramos apenas vítimas dos processos degenerativos, na porta da morte.
Mas podemos entender isso de outro modo. Jung disse que “O ser humano não chegaria aos setenta ou oitenta anos se essa longevidade não tivesse um significado para a espécie. Por isso, a tarde da vida humana deve ter também um significado e uma finalidade próprios” Ou seja, se a natureza não erra e nos faz passar por essa fase, então deve ter um motivo!
 Segundo o psicólogo James Hillman, envelhecemos para que nosso caráter  (o conjunto de traços e qualidades, hábitos e padrões que nos faz diferente dos demais) se complete. Igual um fruto que amadurece até o fim, ou uma flor que se abre inteiramente, precisamos do tempo de recolhimento que a velhice proporciona. 
 
A completude  traz o conhecimento de si, a partir do qual pode surgir a Velha ou o Velho Sábio internos que, como O Eremita do tarô, carrega uma lanterna acesa,  iluminando o caminho para os outros.  
Claro que isso não vai acontecer se a gente ficar tentando ser ridícula e eternamente jovens, nem se virarmos aquele tipo de idosa ou idoso resmungão, queixoso, um peso para os parentes e para si mesmo, esperando a morte chegar, como na musica do Raul Seixas. 
É uma escolha: abençoar os outros e aceitar essa fase da vida ou ser um estropício para o mundo, como bem  disse nosso amigo Eugenio.
Por essas e outras, Hillman afirma que “é um enorme erro ler os fenômenos da velhice como indicações de morte e não como iniciações para outro modo de vida”. Que outro modo de vida? O de Velha ou Velho Sábio, é claro! 

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