O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

A Morte

Texto DE BETOH SIMONSEN

Outro arcano feminino do tarô na visão do autor Betoh Simonsen – contato betohsimonsen@uol.com.br e www.clubedotaro.com.br

Entre o termino de um ciclo e o início de outro, existe um espaço que pode ser chamado momento de passagem ou de transformação profunda, simbolizado pelo arcano da Morte.

Em nossos processos normais, sempre temos alguma coisa a fazer, resolver, ou mesmo nos preocuparmos.

Nos momentos de transformações, como da ocasião de uma perda importante, de um fechamento de qualquer ciclo como o termino da faculdade e antes de encontrar um emprego; no período de adaptação logo após um casamento ou uma separação; no momento de ser despedido; no conhecimento de uma doença grave nossa ou de alguém extremamente próximo; situações em que nos sentimos totalmente desamparados, impotentes e fora de controle das coisas; muitas vezes não existe nada a fazer.
O desafio é justamente entregarmo-nos e confiarmos no vazio da transformação, onde poderemos atravessar uma verdadeira revolução de consciência e sairmos regenerados e engrandecidos, prontos como bebes para a nova fase, ou, ao contrario, com uma grande perda de energia psíquica quando nos fixamos em nosso medo e dor.
Nossa cultura trabalha mal a sensação de vazio, o medo e as incertezas; e assim normalmente temos muita dificuldade em atravessar estes períodos, sentindo-nos solitários, infelizes e perdendo uma enorme energia psíquica. O ciclo completo é vida, morte e renascimento. Saímos de uma experiência, passamos por uma profunda transformação e entramos em outro ciclo de experiências.
Existem diversos símbolos na Natureza que representam esta transição, como por exemplo, as seivas (energia vital) das plantas descem para as raízes (fundamentos) no inverno, tirando a energia das folhas e galhos, sendo um bom período para a poda dos galhos que estão mais fragilizados, que são muitas vezes aqueles que mais produziram no ultimo ciclo. Na primavera as energias voltam à expressão com toda força. Quando um ser humano se identifica ou fixa-se em demasia com o que perde, assemelha-se a cortar um galho com seiva, quando há perda real e não apenas aparente de energia.
Temos nestes momentos que aprender a nos recolhermos à nossa essência, passarmos por uma profunda reflexão simbolizada pelo vazio ou fogo da transformação, e à semelhança de Phoenix, o pássaro mítico, renascermos de nossas cinzas.
Outro símbolo é a lagarta que se transforma em borboleta. Durante o tempo de lagarta ela provoca muito mais destruição do que construção. Durante sua fase de borboleta, com sua função de polinização, ela repõe com folga o que destruiu, alem de irradiar beleza e harmonia com suas cores e ensinar a confiança radical na existência, entregando-se ao sabor do vento.
A lagosta muda de tempos em tempos de casca, quando de recolhe em uma toca, e apesar de vulnerável é quando se prepara para uma nova fase de crescimento.
Como fomos acostumados a controlar todas as situações, nos sentimos muito aflitos quando entramos em uma fase de incertezas. Porém é exatamente nestes momentos que podemos dar enormes saltos de consciência. Se estivermos centrados, procurando o silencio interior e em comunhão com nossa alma, saímos destas experiências, transformados, como um novo ser. Recebemos a benção do Graal, como no cavaleiros da Távola Redonda.
Todos os xamãs nos ritos de passagens encontram a experiência da quase morte, que é a entrega à Força Maior. Na experiência do Graal, o ultimo passo é sobre o abismo, a noite escura da alma, aonde eventualmente chegamos a desenvolver a confiança radical. São muitos os que desistem neste momento, e precisam começar tudo de novo. Na Cabala, a misteriosa esfera de Daath pode ser considerada o teto do inferno e o chão do paraíso.
Existe ordem até no aparente caos. Não precisaria ser tão doloroso, o que torna este processo tão doloroso são nossos apegos. No Tibete existe toda uma tradição de como lidar com estes momentos, chamado de Bardo, e passam toda uma vida preparando-se para isto.
Na prática quando temos uma sensação de vazio, perda, medo ou pânico, o caminho é não tentar controlar, resolver ou mesmo entender esta situação, pois nenhuma de nossas funções emocionais e mentais consegue operar neste nível de freqüências, mas abrirmo-nos para a Presença divina, Shekina, através da entrega total.
Por enquanto vocês podem receber estas idéias como sugestões ou hipóteses de trabalho, mas garanto que muitos já têm esta experiência assimilada. Quando uma pessoa consegue operar neste nível, sua presença torna-se fortemente magnética e curadora.
Quando no Tarô sai a Morte, dificilmente é uma grande morte, mas talvez uma das centenas ou mesmo milhares de transformações e mudanças que acontecem em nossas vidas, todas potencialmente importantes e reveladoras. Nosso planeta está também atravessando um destes períodos e por isso todos são afetados fortemente por esta experiência.
A Roda da Fortuna junto com a Morte nos ensina que encerrado um ciclo podemos nos entregar ao período do vazio da transformação, ao fogo criador, conservando apenas a Presença, sabendo que a Vida, ressurgindo das cinzas, mas uma vez virá em todo seu esplendor.

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