O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

A menina sábia: Andrée Samuel

Fiz esses contos com intenção de “traduzir” para a linguagem mitológica alguns aspectos da vida real da mulher entrevistada no nosso livro O feminino e o sagrado: mulheres na jornada do herói.
Então, para esclarecer os que ainda não leram o livro e relembrar a quem leu, antes do conto há um pouco da biografia da pessoa a quem se refere.

Saímos da entrevista com Andrée com a sensação de termos conhecido uma mulher sábia. Emotiva, ela une erudição e ternura, coisas que não costumam andar juntas.
E parece que foi isso que ela fez por toda vida, mesmo: uniu, aproximou, entendeu, “psicosintetizou” as coisas diferentes que lhe aconteceram, sempre fazendo amigas, apoiando e sendo apoiada por muitas pessoas, ás quais, generosamente, concede o crédito.
Andrée é psicóloga clínica, fundadora e diretora do Centro de Psicosintese de São Paulo, e segue tecendo seu “mosaico” harmonioso.

Num grande bosque, moravam fadas, magos, elfos, duendes, e muitas outras formas de vida que quase ninguém enxergava.
Mas, certa manhã, uma menina que por ali passava conseguiu ver todos estes seres diferentes.
Ela encantou-se com eles, e eles ficaram tão felizes por serem vistos, que também se encantaram com a menina.

Então, quando ela caminhava pela calçada de seixos brancos, uma fada verde-alface lhe ofereceu uma pequena jarra.
A menina agradeceu o presente, e elas tornaram-se amigas.
Na encruzilhada da fonte, uma ondina quase transparente se ergueu dos borrifos e encheu a jarrinha com a preciosa água-de-ondina.
Na borda da mata, uma elemental cor de terracota lhe deu bulbos de beterraba, próprios para serem cozidos em água-de-ondina.
Na beira do lago, um xamã lhe deu um caldeirão, perfeito para cozinhar beterraba.
Na trilha escondida, as velhas tecelãs lhe deram uma cesta de vime dourado, boa para transportar presentes.
A menina colocou tudo na cesta, mas espetou o dedo numa farpa de vime. Assim, ela conheceu a cor exata de seu sangue.
Na ponte, escorregou numas pedrinhas que o gnomo malandro havia espalhado, e mergulhou no riacho escuro. Assim, sua ferida foi limpa, ela conheceu seres aquáticos que nem sabia que existiam, e acabou ficando amiga até do gnomo malandro.
E, por toda parte, continuou colhendo presentes e amigos como quem colhe flores.

Pelo final da tarde, a cesta estava cheia e a menina tinha ficado rica.
Rica e sábia, porque, naquele lugar, uma coisa é sinônimo da outra.
E entendeu que tinha entrado no bosque justamente para compartilhar sua sabedoria.
Então, na sombra de uma arvore, estendeu uma toalha tecida com fio de teia de aranha, onde pousou comidas, bebidas, rosas (com espinhos, porque senão não seriam rosas de verdade), e convidou a todos para um banquete.
Ali, ela ensina a enxergar as diferentes formas das coisas que existem. Conta histórias, mostra o que aprendeu, e ainda aprende com os novos amigos que surgem.
E uma coisa vai se emendando na outra, entretecendo-se na toalha que a aranha continua a tecer, e que hoje se espalha por todo bosque.
Por entre seus vãos, a cada dia brotam da terra outros pequenos seres-sábios, que celebram com a moça a festa da vida.

1 comentário

  1. O final feliz é a linda festa da vida…
    Eu tenho que trazer a festa da vida para a presença de duas tecelãs maravilhosas que entre laçadas e conversas,criaram um tecido único, bordado com os mais belos fios de nossas vidas. Parabéns é pouco para vocês duas, Bia e Cris.Abraços Regina Fiogueiredo.

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