O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

A deusa do riso e da alegria: as lições de UZUME

Uzume pode ser o antídoto perfeito para duas atitudes emocionais que, se duradouras, são das mais nefastas, pois tornam a vida um sofrimento eterno: a amargura e a pena de si mesma. As duas costumam “caminhar juntas”! E, pior, elas são autofágicas, se alimentam de si mesma, ou seja, quanto mais amargura e/ou pena de nós sentimos mais amargura e/ou pena de nós vamos sentir.

(…) Todas passamos, em algum momento, por tempos de profunda tristeza, em que precisamos nos recolher para curar nossas feridas. Eles são inevitáveis e devem ser vividos para que o acontecimento seja “digerido” , para que a gente aprenda o que tiver de aprender – tudo na vida ensina, se quisermos – e amadureça.

(…) O grande problema é escolher não sair disso, fazer como Amaterasu e se trancar por dentro em uma caverna, a da amargura e/ou da pena de  si mesma. 
Com isso, tudo à nossa volta perde a luz e o calor. Nessa escuridão, tendemos a não ver nada além da própria escuridão: não vemos os outros, não vemos a vida que está passando e o mundo fica “girando ao redor do nosso umbigo cheio de dor”. Nesse momento precisamos da nossa Uzume interna, para que ela nos leve a sair desse “buraco” escuro em que entramos e nos faça olhar para fora, ter uma nova perspectiva. 

(…) Se escolhermos a via da amargura ou da pena de nós mesmas, tudo o que acontecer vai cair nesse buraco e teremos esse olhar pessimista para seja lá o que for. Se, ao contrário, escolhermos a via do riso, da irreverência, do bom humor, como Uzume, isso não nos livrará da tristeza, mas não a habitaremos em definitivo. A postura de buscar a alegria de viver – o que não significa nos tornarmos donas de óculos cor-de-rosa eternos, que só nos fazem ingênuas e tolas – pode ser um dos agentes mais transformadores e curativos que existem, além de ter um componente contagiante tão ou mais forte que a amargura e o pessimismo. Assim como podemos trazer ao nosso redor escuridão e frio, podemos trazer luz e calor. Saber rir de nós mesmas, sem ter vergonha, sem nos sentirmos diminuídas e mantendo a autoestima, é um dos grandes sinais de maturidade emocional. É não se levar tão a sério, enxergar e aceitar a vida, mesmo quando difícil, com mais serenidade. É saber que somos poeira de estrelas no pequeno sentido, quando nos sabemos poeira, e no grande sentido, quando nos sabemos estrelas.

Trecho do meu livro O LEGADO DAS DEUSAS

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