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A bruxa russa, Baba Yaga

Baba Yaga é minha mãe-bruxa favorita. Ela é russa, tem mais de mil anos de idade, um temperamento terrível e caráter ambíguo. É justa, cruel, generosa, imprevisível e poderosa. Por que essa ambiguidade?
Uma idéia para explicar isso é que na antiga Rússia as grandes famílias moravam em casas igualmente grandes ou próximas umas das outras, fazendo com que as crianças tivessem contato com inúmeras figuras de mãe: a própria mãe, a avós, as tias, as tias das tias, etc. O que talvez tenha trazido o caráter múltiplo da Baba Yaga, que afinal de contas é uma das imagens da Grande Mãe.
Em muitos contos de fadas ela é mesmo chamada de mãe ou ela “fala igual as mães”. Numa leitura psicanalítica, sua ameaça de cozinhar criancinhas no caldeirão remete simbolicamente a colocar o filho de volta no útero, representado pelo caldeirão. Isso está ligado à difícil tarefa do filho de crescer, tornar-se adulto e desligar-se da mãe, e à não menos difícil tarefa da mãe de deixá-lo fazer isso e ir embora

.


Quando viaja, Baba Yaga voa num pilão de madeira, utensílio comum a todas as mulheres, manobrado por uma vassoura de palha (idem), que serve também para apagar seus rastros. Ela mora na floresta, representação do inconsciente, numa cabana de madeira apoiada em pés de galinha que se deslocam se ela quer mudar. Se algum visitante se comportar de maneira desrespeitosa enquanto chama pelo dono da casa, a bruxa manda os pés da cabana pisoteá-lo até esmagar cada osso de seu corpo. Mesma coisa se ele for grosseiro. 

Porém, se o visitante prestar serviços como rachar lenha, varrer a casa ou preparar uma refeição, ela o acolhe. Se ele demonstrar qualidades de bravura, coragem ou gentileza, ela até lhe dá presentes mágicos. E ela sempre honra os acordos que faz. É justa, mesmo.

Baba Yaga é muito popular ainda hoje na Rússia e Leste europeu. Diz-se que mesmo nos anos do terror soviético e nos pogrons contra os judeus muitas mulheres foram poupadas da perseguição porque se assemelhavam com ela, a quem até os soldados a temiam. Um lado bom de parecer uma bruxa, não…? 

A imagem arquetípica poderosa da mãe pode fazer tremer até os militares mais violentos! Contou-se também historias de soldados que encontraram sua cabana, ou que foram atacados por ela, tanto na Primeira Guerra como na Segunda. Essas lendas tiveram que ser enfrentadas junto com os combates corpo a corpo nas geladas florestas do norte.  

Feliz dia das Bruxas!
Para saber mais, acesse os sites de onde tirei parte dessas informações: www.tallesofaerrie.blogspot.come www.mundotentacular.blogspot.com.br
  
Post de Bia Del Picchia

5 comentários

  1. Anônimo disse:

    The Hut Of Baba Yaga, vide Tableaux D'une Exposition, do compositor ruSSO M. Mussorgsky.

  2. Este comentário foi removido pelo autor.

  3. Ví! Ou melhor, ouvi, é lindo. Já conhecia a musica, mas
    não sabia que se referia à cabana da Baba Yaga… Agora gosto ainda mais, obrigada!

  4. Anônimo disse:

    Eu, por minha vez, não sabia da história de Baba Yaga, nem que era uma mulher, menos ainda uma feiticeira. E a cabana com pés de galinha! Obrigado a você por compartilhar as belas imagens e a história!

  5. Ótimo texto. Gostei do blog e das temáticas. Alguém recomenda textos bons para abordar na sala de aula?
    Esses dias também li um outro texto sobre Baba Yaga – A Bruxa Russa aqui:
    http://demonstre.com/baba-yaga-a-bruxa-russa/
    Abraços e até ao próximo post!

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