Euá, a Senhora das visões, dos sonhos, da arte, da vidência – parte 1
Amei estudar Euá, que lida com coisas que amo: sonhos, oráculos, visões, arte… e o feminino, claro. As informações daqui vieram do ótimo livro Euá, da Cleo Martins, Ed Pallas, e a imagem é da Cris Balieiro. Vai ter mais de Euá semana que vem.
Euá é filha de Oxalá, o princípio masculino do espirito, e de Odudua, o princípio feminino da matéria – as duas metades que compõe o céu e a terra. Ela faz a síntese dos dois, propiciando a coexistência dos dois princípios. Euá tem o poder de se comunicar com os seres de todos os níveis e é dona do saber dos dois mundos.
Ela é irmã de Obá, quem faz o transporte espiritual entre o céu e a terra, e as duas trabalham em parceria. Euá é a Senhora da Vidência, dos sonhos, da magia, do místico, do transe, dos encantamentos e feitiços, mas só se apresenta e estimula esses dons para quem quer e quando quer. Também pode provocar a demência, a histeria, os pesadelos, as ilusões, e pode impedir as pessoas de sonharem, o que é um castigo.
Iroco, o orixá da arvore sagrada e o princípio masculino que forma a ponte entre o céu Orum e a terra Aiê, tem paixão por ela. Ninguém de bom senso fica perto de um pé de Iroco a noite, mas Euá se deita em suas raízes e contempla o céu estrelado e a lua ali. Junto com ele, Euá é a guardiã da fronteira que separa os dois mundos. Ela impede que os dois se juntem e organiza o contato entre os dois.
Nos sonhos e visões nós voamos para o Orum, mas não suportaríamos o choque de ficar muito conscientes, vendo a olho nú esse céu tão diferente da nossa terra. Então Euá faz o seguinte: como senhora das percepções, ela ameniza a passagem perceptiva que fazemos de um mundo para o outro: suavizando as cores, impregnando o sonho ou visão de símbolos, dando uma confundida nas coisas, embaralhando a sequência lógica, dando um toque poético ou amenizando as lembranças. Nós ficamos com as mensagens, mas como uma vaga lembrança que até se esvai.
Euá é senhora da percepção, da imaginação, da memória, do belo e da sensibilidade. Ela é a belíssima patrona de todas as linguagens artísticas. Agindo sobre a percepção, Euá proporciona melhor discernimento dos sons, das cores, das formas, do belo. Ela também cria o vínculo entre o observador e a obra de arte, agindo em nossas emoções para a gente perceber o belo.
Um mito conta que no começo do mundo Obatalá dotou o ser humano da capacidade de pensar, então os homens ficavam o tempo todo pensando, pensando, sem parar. Não fazia mais nada, nem se alimentar, nem procriar, nada. E tudo era chato, monótono, igual. Então Euá foi consultada para ver se melhorava isso, e Ela fez o seguinte; separou o dia da noite, o claro do escuro, o frio do quente, os animais dos homens e o Céu Orum da Terra, Aiê. Para isso utilizou a magia, o sonho, a ilusão, o mistério e criou o sono, o descanso, o período do qual o ser humano sai do mundo “real” para o imaginário, da fantasia, onde ele voa conduzido pelos sonhos e se assusta com pesadelos. E quando dormiu, voou e sonhou, o ser humano se modificou. Na volta começou a modificar sua comida, a perceber os cheiros das coisas, os sabores, os sons da natureza. Percebeu que estava vivo, percebeu a natureza, a beleza e o sentimento de eternidade. Nasceu assim a poesia, a pintura, o canto.
Euá é senhora das transformações, das ações secretas, da camuflagem. Ela se transforma no que quer, muitas vezes em pássaro ou em serpente, como outras feiticeiras. Ela pode esconder coisas das nossas vistas, e a gente procura sem sucesso… Por outro lado, quem tem um inimigo poderoso pode pedir a Euá que o torne invisível.
continua segunda que vem