Uma história para hoje – de Clarissa Pinkola Estés
“Conheci muitas arvores vigorosas nos bosques do norte onde passei a infância. Contudo, naquela época – como ocorre na vida das mulheres também – as grandes arvores eram repetidamente expostas a riscos por conta de rápidos esquemas de incorporação imobiliária.
Uma dessas arvores ameaçadas que conheci era uma enorme avó, um choupo. Essa arvore tinha sobrevivido por vários séculos a vários tipos de intempérie, inundação, congelamento e a todas as criaturas que queriam corroê-la.
Ela era o que chamávamos de “arvore da nevasca do verão” porque lançava suas sementes diminutas presas a uma reluzente penugem branca. Seria um equívoco imaginar que, por lançar suas sementes em saias cheias de babados, ela fosse frágil. Ela não era. Era uma guerreira.
Bem, um dia ela foi “descoberta” por um grupo de gente armada de serras de arco e machados. E então, ao longo de algumas semanas terríveis… sem nenhuma cerimônia ela foi picada e derrubada. Depois foi levada embora por um grande caminhão preto com uma chaminé.
E, como ocorre muitas vezes na vida de uma mulher, a conclusão era que ela tinha sido derrubada, e que agora esse era o seu fim. E alguns … podem ter dito: “já vai tarde”… No local onde antes ela tocava o céu, havia agora um espaço sinistro, um vazio, uma abertura escura que dava para lugar nenhum.
Ao longo do ano, começou a acontecer alguma coisa com aquele enorme cepo de choupo. O que restou do chão tinha mais de 1.80 m de diâmetro. O tempo passava.
E passava.
Então… teve inicio o que chamo de “um lento milagre”. Do cepo liso sobre o qual a arvore viva um dia se erguera, cresceram 12 rebentos a partir da velha arvore avó. Direto para o alto. Fortes. Ondulantes. Dançando numa roda. Em cima do cepo. Em torno de sua borda… 12 arvores que dançavam.
As arvores jovens que cresceram a partir do corpo do velho choupo eram obviamente suas filhas. Na mitologia, uma arvore dessas com sua prole às vezes é chamada de “árvore dos círculos das fadas”; espíritos que brotam do que parece estar morto… para dançar sem parar na alegria de uma nova vida.
Não há vida estática. Há vida que dança”.
Esse texto está no livro A ciranda das mulheres sábias, e a foto fui eu que tirei na Letonia, país que visitei em 2016 e que se recupera – muito bem – de um passado muito difícil.