A abuelita – a grande avó – por Clarissa Pinkola
Nada mais gostoso que uma boa avó, né? E nada pior que aquelas velhas nocivas que a gente reconhece em cada tentativa de manipulação ou de espalhar veneno. As engraçadas, as ressentidas, as grandes sábias, as nutridoras e acolhedoras, enfim todos os tipos de abuelitas são resultados dos processos que nós vamos desenvolvendo ao longo da vida, diz Clarissa no último parágrafo desse texto que veio do livro A Ciranda das Mulheres Sábias, lindo como essa ilustração da Maria Cininha.
“A abuelita, a grande avó. São tantos os tipos que aparecem nos mitos e histórias. Há as distantes, que tentam esgotar as forças vitais dos parentes, como em certos temas de histórias do Leste da Europa, em que as sugadoras de sangue procuram primeiro dentro da própria família — os filhos e os filhos dos filhos —, em busca de nutrição para compensar sua luz fraquejante, seu vazio e suas escolhas imprudentes.
Há as grandes avós selvagens que têm o cabelo verde e os cílios turquesa, com sapatos de todas as cores, e que viajam por toda parte para fazer as menininhas entenderem que são bonitas. Há as “grandes avós de avental” que sabem de tudo sobre fartura e carestia, e são as portadoras de alimento para o corpo e para a alma. Há as grandes avós de alta-costura e as grandes avós artistas que lançam purpurina a cada passo e inspiram outras a criar à vontade. Há uma quantidade incontável de tipos de avós: cada uma é única e representa um desafio a tentativas de classificação. Há muitas grandes avós que reúnem os atributos anteriores e ainda mais; ou mesmo diferentes, tudo ao mesmo tempo.
Qualquer qualidade de inteligência, ternura, franqueza, sensualidade, profundidade que uma mulher tenha possuído aos vinte anos de idade, com o esmerado desenvolvimento ao longo do tempo, estará provavelmente duplicada e triplicada quando ela, de fato, na psique e na alma, for uma grand mère”.