Lenda curativa do povo navajo
Essa lenda dos índios navajos era contada pelo velho curandeiro Jeff King (foto abaixo) como um ritual para fortalecer os índios que iriam para frente de batalha na Segunda Guerra Mundial. Chama-se Quando Os Dois Foram Até Seu Pai.
A lenda começa quando dois gêmeos – um guerreiro, chamado Matador de Inimigos e o outro, um mago chamado Filho da Água – saem em busca de seu pai, que é o Sol, para pedir que ele lhes dê armas para conseguirem acabar com os monstros que aterrorizam sua tribo. Nessa jornada, eles vivem muitas aventuras.
Arrumam aliados como a Velha Sabia, a Mulher Aranha, o Homem Arco Íris, enfrentam inimigos e desafios que o pai exige para que eles provem que são valentes. Por fim, eles retornam e conseguem vencer os monstros que ameaçam a tribo. Só que então eles tombam doentes.
Continuo com o Campbell, que conta no livro:
Quando os gêmeos terminam esse ultimo combate, estão muito, muito cansados, quase morrendo. “ Então, porque estavam muito mal, os deuses descem e realizam com eles um ritual de cura. E no que consiste esse ritual? É o ensaio dessa mesma historia que acabei de contar, a historia da vida deles. É isso que o psiquiatra faz quando se aprofunda para descobrir o que há de errado com o paciente, porque ele não está em contato com seu inconsciente. Os deuses conduzem os gêmeos nesse pequeno psicodrama e os coloca de volta em contato com o dinamismo do caminho da própria vida.”
Ou seja, o que ele está dizendo é que ouvir a própria história de vida conforme é contada pelos deuses, ou pelo xamã moderno que é o psicólogo, ou até por nós mesmas de uma perspectiva ampliada, é uma coisa poderosamente regenerativa. Por que?
Porque descobrimos coisas que não fazíamos ideia que estavam ali. Porque a história pode nos indicar um sentido.
A gente costuma pensar na própria vida como uma sequencia de muitos eventos mais ou menos vinculados entre sí. Alguns são conseqüência de outros (tipo: consegui esse emprego porque fiz tal faculdade); já outros eventos parecem meio isolados do resto da vida, como umas soltas férias de verão, e outros parecem que aconteceram por mero acaso.
Mas ao buscar a sequencia deles, ao ir encaixando as lembranças das pessoas, dos lugares e de coisas quase esquecidas, de repente acontecimentos que pareciam acidentais começam se unir aos outros com muita coerência.
E descobrir isso é muito importante. Jung dizia que o ser humano pode suportar muita coisa se fizer sentido. É o sentido que nos tira do pesadelo do caos para um mundo de criação.
Há os que preferem não ver sentido na vida. Respeito. Mas para mim tantas vezes ele salta à vista que me admiro que outros não vejam.
Por outro lado, nem sempre isso acontece. Acho que ver o sentido nas coisas é como ver aquelas imagens que surgem à meia luz ou quando a gente está sonolenta: as vezes são claras, as vezes parecem só impressão, as vezes são meras sombras ou lampejos. São os véus de Isis…