Slow movement: v e r y s l o w… d e v a g a r z i n h o
Você já ouvir falar do slow movement?
É um movimento cultural, que defende que façamos as coisas mais devagar, que tenhamos um modo de vida mais lento.
Em tudo: que comamos devagar (apreciando longas refeições, como os franceses e italianos gostavam (ainda gostam?)), que façamos sexo devagar (criando clima, esticando…), que viajemos devagar (o oposto de “conheça cinco países em cinco dias”), que estudemos devagar (concentrando e incorporando o aprendizado), que trabalhemos devagar (diminuindo a carga e aumentando a precisão), que façamos arte devagar, e por aí vai…
Parece impossível? A mim, que adoro ser lenta, é uma coisa maravilhosa, apesar da dificuldade de implanta-la.
Há vários sites que divulgam esse movimento.
Talvez precisemos deles para termos companhia que nos reforcem a fazer o que é tão contra a cultura vigente, que não quer abrir mão de nada.
E fazer as coisas lentamente implica mesmo em abrir mão de algumas coisas e em fazer escolhas. Por exemplo, abrir mão de conhecer a Espanha para conhecer melhor a França.
O que se ganha com isso?
Bom, pense comigo: para que fazemos tudo rapidamente? Para conseguir fazer muitas coisas em pouco tempo, certo?
Aí que está: ao fazer rapidamente muitas coisas, elas se confundem ao longo da nossa percepção do dia, e tudo fica com o mesmo gosto, tal sopa mal misturada com muitos legumes.
É a intensidade de vida que vai embora, como o gosto da cenoura some na sopa insossa. Mais cedo ou mais tarde, o tédio e a monotonia aparecem nessa vida tornada indefinida na pressa de fazer muito e nada perder, tornada uniforme pela violação do ritmo natural, pela diminuição da sensibilidade, da consciência e da própria percepção.
Mario Sergio Cortella conta que antigamente, sua família se reunia em torno da cozinha para fazer pamonha, atividade que durava muito tempo. Uns debulhavam o milho, outros amassavam, outros o cozinhavam…
Enquanto isso a conversa rolava, e eles se divertiam no próprio fazer. Lá pelas 4 da tarde, a pamonha ficava pronta e todos então uniam o prazer do encontro com o sabor da comida fresca.
Também minha amiga ceramista fala da satisfação que é esperar a queima das cerâmicas ao lado de outras colegas, aguardando e guardando o fogo a noite toda, tomando chá e trocando confidencias.
Hoje, quando queremos pamonha nós a compramos, comemos e pronto. Não há tempo para esperar a queima da cerâmica ou para o lento aprendizado que a precede. O produto é o que tem valor, em vez do tempo, tornado mero instrumento do fazer muito.
Mas gente, o que é vida senão tempo, e a intensidade e disposição de espírito com que o passamos?
Texto de Beatriz Del Picchia