Falando um pouco de Jung – parte 2
No post publicado no dia 9, contei da extraordinária jornada que Jung fez para dentro de si mesmo por quase 5 anos. Hoje vou falar das descobertas que surgiram a partir disso.
Fundamentalmente a visão que a psique é composta por– além do consciente – duas camadas de inconsciente.
Uma camada composta de fatos e memórias que esquecemos ou reprimimos – nosso inconsciente pessoal. Essa camada é muito próxima daquilo que Freud considera o Inconsciente como um todo.
Mas – e nisso está sua originalidade – Jung descobriu outra camada inconsciente. Uma camada que não tem a ver com nossa história pessoal, mas que é composta por toda herança psíquica da humanidade, que ele chamou de inconsciente coletivo.
Na verdade Jung já pressentia a existência dessa camada inconsciente não pessoal desde antes desse seu “mergulho” – pelos seus sonhos e de seus pacientes e pelo conteúdo dos delírios dos pacientes psicóticos.
Sabia que a visão teórica freudiana não dava conta de explica-los totalmente, mas ainda não tinha segurança sobre sua significação exata. Foi por isso, inclusive que começou a se dedicar ao estudo das mitologias, buscando paralelos.
Mas foi somente após essa sua jornada interna que vivenciou essa camada do inconsciente coletivo dentro de si.
Antes dele, ninguém havia feito tal mergulho no próprio mundo interno, de forma consciente e com a perspectiva de um cientista…
Vamos olhar um pouco mais para esse inconsciente não pessoal? Jung diz que ele é composto pelos arquétipos. E o que são os arquétipos?
Como Jung diz, assim como os instintos são processos inconscientes e herdados que se repetem uniformemente e com regularidade em todos nós, os arquétipos são padrões básicos que se repetem e regulam os processos psíquicos humanos.
Ou em outras palavras, são esquemas ou possibilidades herdadas de apreensão psíquica da vida e do mundo.
Podemos observá-los em nossas vidas através de imagens arquetípicas como o Herói, a Mãe, a Criança Divina, o Velho Sábio ou em temas arquetípicos como o Nascimento, o Sacrifício, o Fogo Sagrado, a Morte.
É pelo fato de todos nós humanos, termos essa mesma base arquetípica que, independentemente de onde fomos criados, do país e da época em que vivemos, das nossas religiões e crenças, essas imagens são muito parecidas, mesmo que revestidas de inúmeras “colorações” diferentes.
Pelo mesmo motivo, os arquétipos, em suas imagens e temas, estão presentes nos mitos, lendas, contos de fadas, na arte e também nos nossos sonhos e nos delírios dos assim chamados doentes mentais.
Em todos esses “relatos” a psique humana está falando de si mesma.
As imagens arquetípicas são muito poderosas pois é nelas que reside a fonte da energia psíquica e por isso precisamos estar em contato com elas para termos a sensação que nossa alma está viva! Nelas também reside a possibilidade de buscar um significado maior para a vida, além da dimensão corriqueira e estreita.
Por outro lado, também trazem perigo, pois se a pessoa se identifica completamente com elas pode pôr em risco a própria sanidade, como por exemplo, aquelas pessoas que acham que são Jesus Cristo!
O que fazer então?
Em primeiro lugar aceitar que essas imagens não são produzidas pela vontade, qualidade pessoal ou talento da própria pessoa, mas são possibilidades de contato com algo maior que o próprio indivíduo.
E em segundo lugar realizar um esforço sério para sua compreensão, colocando-as a serviço da ampliação da vida e da consciência.
Por isso os mitos – e os contos de fada, as lendas, os sonhos – são essenciais para uma vida com significado e com vitalidade psíquica, pois eles constituem aquilo que, em essência, somos por dentro!