Falando um pouco de Jung – parte 1
Carl Gustav Jung foi um médico psiquiatra suíço que nasceu em 1875 e morreu em 1961: teve uma longa vida!
Foi, junto com Freud um dos mais importantes pioneiros na criação da moderna ciência da psicologia. Aliás, foram os principais responsáveis por demonstrar cientificamente que o comportamento humano era parte fruto da nossa consciência, mas parte e grande parte, do nosso inconsciente.
A influência de Jung hoje sobre a maneira de olhar o humano e a cultura é grande e continua crescendo. Dizem que Freud foi O psicólogo do século XX e Jung é e será cada vez mais, O psicólogo do século XXI.
Além da psique ele se interessou e pesquisou uma gama enorme de assuntos: filosofia, astrologia, mitologia, religiões, alquimia, física, I Ching
Manteve também uma longa prática psicoterapêutica o que lhe dava sólida base empírica.
O bacana nele é que não tinha preconceitos sobre o que considerava digno de ser estudado: o que sempre o estimulou foi uma ampla curiosidade e uma visão aberta a abordar qualquer tema, sem julgamentos a priori.
Aliás, uma postura que todo cientista devia ter, vocês não acham?
Ele também sempre valorizou a experiência pessoal com o assunto tratado e não uma aproximação unicamente racional. E na verdade, suas mais relevantes descobertas foram baseadas em uma extraordinária experiência pessoal.
Jung era quase 20 anos mais novo que Freud, mas desde que se conheceram em 1907, mantiveram uma criativa e intensa relação pessoal e profissional, que terminou com um rompimento drástico entre os dois, em 1913. Freud foi uma figura muito importante para Jung e o rompimento com ele foi um processo bastante doloroso.
Tinha sérias dúvidas sobre a abordagem teórica da psicanálise e também sobre como tratar os pacientes e sentia-se perdido, tenso, angustiado. Começa a ter sonhos fortes, pesados assim como a ter visões espontâneas meio trágicas. Tenta entender o que está havendo, mas não consegue e acaba decidindo-se render-se àquilo que estava brotando dentro dele.
Como ele diz em sua autobiografia:
“…tive que confessar a mim mesmo minha ignorância (sobre o que estava acontecendo com ele). Pensei então: “Ignoro tudo a tal ponto que simplesmente farei o que me ocorrer”. Abandonei-me assim, conscientemente, ao impulso do inconsciente”.
Resolve então, sempre que não está atendendo seus pacientes fechar-se em seu escritório e se entregar de forma sistemática e voluntária, a suas emoções, a suas fantasias e as imagens internas que vinham com elas. Mergulha de forma profunda e diária em seu mundo interno e passa a “conversar” com suas imagens e a anotar tudo o que acontece nesses diálogos
As anotações que fez nesse período foram passadas, primeiro para o que ele chamou de Livro Negro e mais tarde transcritas e as imagens pintadas no Livro Vermelho.
Como ele mesmo conta, transformar suas intensas emoções em imagens e dialogar com elas foi provavelmente o que o salvou de entrar num colapso total e não conseguir mais sair dele!
Jung trabalhou nesse livro extraordinário durante 16 anos e sua última anotação, deixada incompleta é de 1959, mas ele só foi publicado mundialmente agora em 2009.
Esse processo de investigação de seu próprio inconsciente durou mais de 4 anos!!! Vejam como ele fala sobre ele:
“Desde o início, concebera o confronto com o inconsciente como uma experiência científica efetuada sobre mim mesmo e em cujo resultado eu estava vitalmente interessado”.
E mais:
“Os conhecimentos que eu buscava e que me ocupavam ainda não faziam parte da ciência vigente naqueles dias. Eu mesmo deveria realizar a primeira experiência e, por outro lado, devia tentar colocar no terreno da realidade aquilo que ia descobrindo. (…). Desde esse momento pus-me a serviço da alma”.
E como ele termina falando sobre isso na sua autobiografia:
“Foram necessários 45 anos para elaborar e inscrever no quadro da minha obra científica os elementos que vivi e anotei nessa época da minha vida. (…) encontrei essa corrente de lava e a paixão nascida de seu fogo transformou e coordenou a minha vida. Tal corrente de lava foi a matéria-prima que se impôs e minha obra é um esforço, mais ou menos bem-sucedido, de incluir essa matéria ardente na concepção do mundo do meu tempo”.
E o que resultou de mais importante para nós dessa ousada e dramática jornada interna pessoal?
De mais importante, a descoberta de um inconsciente não pessoal, comum a toda a humanidade e fonte da vitalidade psíquica.