Uma pequena parábola budista
Quantas vezes ficamos presos as regras, as convenções, as aparências, ao politicamente correto, com medo da censura externa ou interna e não seguimos o que, de verdade, sentimos e queremos fazer? Será que não é mais íntegro seguirmos o que pede nossa consciência e não as normas estabelecidas? Essa pequena historinha budista ilustra isso.
Dois monges viajavam juntos por um caminho lamacento. Chovia torrencialmente o que dificultava a caminhada. À certa altura, tinham que atravessar um rio, cuja água lhes dava pela cintura. Na margem estava uma moça que parecia não saber o que fazer:
– Tenho que atravessar para o outro lado, mas tenho muito medo, me ajudem por favor!
Então o monge mais velho pôs a moça em suas costas e a levou para a outra margem do rio. Dali continuaram os dois monges seu caminho rumo ao mosteiro. Até chegarem lá, que ficava há muitas horas de caminhada, o monge mais moço, trazendo um semblante pesado e carrancudo, foi falando e ralhando sem parar com o mais velho, dizendo:
– Você está cansado de saber que nós, monges, não nos devemos aproximar das mulheres, especialmente se forem jovens e atraentes. É perigoso, é proibido. Você não devia ter carregado a mulher. Isso é um absurdo: o que nossos mestres vão dizer? Você tinha que ter deixado a mulher na beira do rio, ela que se virasse. Por que fez aquilo? Você errou! E se a moça tivesse te tentado? E se vissem você carregado a mulher, o que diriam? E se…e se…
e a ladainha sobre a moça e o erro do monge não parava.
Ao chegar a porta do mosteiro, o monge mais velho virou e falou para o tagarela:
– Sabe meu amigo, naquele momento julguei que ajudar um outro ser humano sem julgá-lo fosse mais importante do que não tocá-lo. No entanto, eu larguei a jovem há mais de três horas atrás e a deixei às margens do rio. E você, você continua carregando a moça. Por que será?